ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Talk show do Rafucko: o humor como midiativismo. |
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Autor | Gustavo Padovani |
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Resumo Expandido | O talk show é um gênero televisivo que nasceu na década de 1950 com a proposta de ser uma entrevista mediada sempre pelo mesmo apresentador. Os programas desse gênero exibidos no período noturno eram dedicados exclusivamente a entrevistar celebridades e convidados inusitados, incitando uma comicidade que se apoiava nas estruturas do stand up comedy (ao possuir um apresentador/comediante que entretém uma plateia ao contar histórias e piadas) e dos programas de auditório (ao inserir um público participante com risos, vaias e aplausos). Esse formato resultou no aumento da audiência, passando a ser adotado por diversos canais televisivos e, no Brasil, teve seus primeiros programas durante a década de 1980 (SILVA,2009). O Talk show do Rafucko parte dessa premissa, mas traz peculiaridades relativas a produção audiovisual contemporânea atravessada pela convergência midiática.
Rafucko (Rafael Puetter) construiu sua carreira fazendo vídeos cômicos e publicando-os no You Tube e divulgando-os em seu próprio site e nas redes sociais como Facebook e Twitter. Todas as plataformas citadas são constituídas dentro do modelo da cultura participativa, fazendo convergir os conteúdos criados pelos usuários e empresas de mídia, produzindo “novas configurações econômicas e culturais” que “são tão contestadoras e incômodas quanto potencialmente libertárias” (GREEN;BURGESS, 2009, p.28). Utilizando essa mesma lógica e apostando em seus seguidores nas mídias sociais, o comediante criou um projeto de crowdfunding para realizar a produção de uma série de dez entrevistas em um programa intitulado como Talk show do Rafucko. Em toda a sua trajetória, Rafucko produziu sketches humorísticas para tratar de questões ligadas ao preconceito (principalmente, em relação aos LGBTS), críticas aos políticos, veículos da mídia e suas respectivas leituras de acontecimentos. Ao criar personagens fictícios e interpretá-los com esse teor crítico, é possível identificar o aspecto da carnavalização no sentido que Bakhtin fornece, pois seu humor emerge de uma subversão da ordem, um “triunfo de uma espécie de liberação temporária da verdade dominante e do regime vigente, de abolição provisória de todas as relações hierárquicas, privilégios, regras e tabus” (BAKHTIN, 1999, p. 08). Esse conteúdo audiovisual inserido nas mídias sociais de Rafucko, em conjunto com outros textos de mídia seus sobre as mesmas temáticas, possibilita a leitura de sua produção como uma prática de midiativismo, ou seja: a ação de um sujeito ou grupo que constrói uma mídia em torno de si criando estratégias que perseguem “a mudança da agenda pública, a inclusão de um novo tema na ordem do dia da grande discussão social, mediante a difusão de uma determinada mensagem e sua propagação” (UGARTE, 2008, p. 55). No Talk show do Rafucko o apresentador interpreta um personagem diferente a cada episódio e, em determinado momento da entrevista, sempre é inserida uma sketch e, em boa parte delas, os próprios entrevistados também interpretam personagens. Embora os entrevistados respondam as perguntas como os indivíduos que o são, essa ficcionalização do apresentador faz com que os convidados estejam sujeitos a intervenções que os permitem, a qualquer momento, voltarem à interpretação proposta nas sketches e/ou lidar com outros personagens ficcionais que adentram o ambiente da entrevista, criando uma espécie de jogo em que “nada tem a ver com a necessidade ou a utilidade, com o dever e com a verdade” (HUIZINGA, p.177, 2010). Ao convidar entrevistados com discursos e opiniões próximas ao do apresentador, esse jogo ficcional pode ser lido como uma estratégia que une os propósitos ativistas do Rafucko, além da criação de um conteúdo que seja atrativo para se tornar propagável em diversas plataformas de mídia (JENKINS;FORD;GREEN,2014) e entre as redes que se relacionam ao universo temático do programa. |
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Bibliografia | BAKHTIN, M. M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.
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