ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Mapas efêmeros: arte e desaparecimento na America Latina |
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Autor | Denise Trindade |
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Resumo Expandido | As fotografias do chileno Christian Kirby propõem repensar os modos de criar imagens do desaparecimento. Através de séries como "Lugares de Desaparição" que produzem um mapeamento dos lugares em que pessoas foram dadas como desaparecidas pelo DINA, assim como em ‘119’, onde o artista coloca em relação fotos de rostos de desaparecidos com os espaços urbanos em que foram seqüestrados pela máquina repressiva do Estado militar projetando fragmentos do mapa de Santiago, percebemos a importância do ato de lembrar e esquecer que o fotográfico suscita. A indiferença decorrente da aceleração das cidades é apreendida pelo artista, que pela sensação de ausência, realiza uma cartografia do esquecimento.
Ao propor um pensamento para além da oposição irreconciliável entre memória e esquecimento, onde a memória é sempre positiva e o esquecimento negativo, Andreas HUYSSEN (2014) reivindica atenção para o que este se apresenta como silêncio, apagamento e desgaste. Assim, podemos relacionar o abstrato da representação cartográfica de Kirby com os rostos concretos de los desaparecidos verificando a tensão das linhas retas do mapa de Santiago com a superficie porosa e desgastada das fotos dos desaparecidos.Para DIDI-HUBERMAN (2011), a obra 119 é como um álbum objetual constituído de pequenas caixas independentes e abertas , para ser lido coletivamente, onde os retratos indexados a um mapa imaginário ocultam uma leitura de dados íntimos e dolorosos e episódios específicos fabulando através da memória de seus rostos uma narrativa composta de planos. Para o autor, esta obra é uma resposta para lidarmos com o esquecimento da história, aproximando através de retratos de mapas familiares e conhecidos , pequenos pedaços de quem éramos e somos. Marcelo Brodsky , segundo HUYSSEN (2014) pertence a memory art, “uma arte que faz memória”. Ao fazer uso do fotográfico e do fílmico como meios de acentuar o ato de aparecer e desaparecer, o artista ultrapassa os limites entre instalação, monumento e memorial. A fotografia, como uma tentativa vã de deter o tempo, adquire em seus trabalhos outras conotações, evocando sentimentos de ausência e tristeza pela visualização do tempo como passagem. HUYSSEN nos diz que a fotografia é sempre cruel pela sua impotência, já que não se é possível reviver aquele tempo. Para o autor, os rostos que Brodsky reproduz, confrontados com os de hoje nos mostram o passar do tempo, onde o que passou contribui para se viver o hoje. Desde seu trabalho “Buena Memória” (1984), no qual, a partir de uma foto de colégio, Brodsky procura reunir os antigos colegas que estavam na fotografia e constata a ausência daqueles que “desapareceram”, até as “Correspondencias Visuais’ (2011) onde dialoga com outros artistas a partir de uma troca de imagens, o artista traça mapas de ausência nos quais a memória e o esquecimento permitem construir através de imagens, uma identidade pessoal e coletiva. No vídeo “El Rio de la Plata” (BRODSKY, 2010; 1,47”), feito juntamente com Eduardo Feller, o rio aparece como um lugar de identidade argentino que faz conexão através de suas águas com o mundo. A imagem da água em movimento, traz em suas ondulações silenciosas a memória dos corpos que ali foram atirados. Em um trabalho recente chamado “Entre Águas” (2014), feito juntamente com a artista Graciela Sacco , ele realiza uma video instalação que, como em um road movie, as imagens encontradas pelo caminho representam a própria transição, em busca de algo desconhecido. Porosas e quase apagadas , silenciosas e em movimento estas obras em seu passar constituem mapas efêmeros de uma arte latino americana em seu porvir. |
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Bibliografia | BELTING, Hans. Antropologia de la Imagen. Katz Editores. Buenos Aires. 2007.
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