ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Medo e ódio na terra da conciliação |
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Autor | Kim Wilheim Doria |
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Resumo Expandido | De que maneira a adesão parcial aos gêneros cinematográficos no cinema brasileiro realizado durante a primeira década do século que corre pode indicar uma tendência estética de nosso tempo? É possível intuir uma reposição das contradições de nossa cinematografia em constante formação na mediação entre convenções do gênero e particularidades de nossa terra? A análise comparada entre “O invasor” (Brant, 2001), “Cidade de Deus” (Meirelles e Lund, 2002) e “Tropa de elite” (Padilha, 2007), de um lado, e entre “Os inquilinos” (Bianchi, 2009), “Trabalhar cansa” (Rojas e Dutra, 2011) e “O som ao redor” (Mendonça Filho, 2013), de outro, permite mapear a um só tempo uma dinâmica de produção e circulação de filmes (aqui interpretadas a partir do paradigma da irrelevância cultural, conforme Jean Claude Bernardet) e uma dinâmica social cozinhada em panela de pressão cujas manifestações políticas de junho de 2013 ao presente podem representar apenas o princípio de um novo momento de nossa história.
Em “O invasor”, “Cidade de Deus” e “Tropa de elite”, a cidade formal da classe média vive em constante conflito com a cidade informal do planeta favela sob o imperativo do mercado, em obras de boa recepção de público sob um prisma pop próprio ao legado da década neoliberal de 1990. Os filmes operam sobre as contradições de um cinema policial esboçado em uma sociedade que tem na polícia um dos maiores signos de desigualdade e violência de sua formação histórica. A paranoia que toma a classe média diante da periferia em “O invasor” leva ao medo que dá o tom de “Os inquilinos”, “Trabalhar cansa” e “O som ao redor”, filmes que dialogam com o terror como forma de elaboração dos horrores constitutivos de nossa sociedade, recalcados tanto por nossa história quanto pela conciliação paradigmática de nossa cultura contemporânea. Tendo em comum um certo senso de catástrofe (mais agudo em umas obras do que em outras), o tom local que desafia as convenções da forma universal, os filmes parecem revelar contradições próprias de nossa história recente. Sua análise se mostra intuitiva para pensar os efeitos dos Anos Lula no país (inclusão social via consumo, atenuação dos conflitos sociais, desmobilização política, “paz e amor” etc.) e a consolidação de um ódio de classes que aflora na proximidade do limite do pacto social que sustenta o lulismo. |
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Bibliografia | AB’SÁBER, Tales. Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica. São Paulo: Hedra, 2011.
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