ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Complexidade nas obras televisuais e cinematográficas de David Lynch |
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Autor | Letícia Xavier de Lemos Capanema |
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Resumo Expandido | É comum encontrar o nome de David Lynch, diretor, roteirista e produtor estadunidense, associado a narrativas classificadas como complexas (Kiss, 2013; Buckland, 2009; Elsaesser, 2009), disnarrativas (Chinita, 2013) e de traços surrealistas (Ferraraz, 2001). De fato, na produção cinematográfica e televisual do autor, é recorrente a presença de propriedades como a complexificação temporal, a não linearidade, as narrativas modulares, a metalinguagem, as ambigüidades de tempo, espaço e personagens e as misturas entre as dimensões do sonho e da realidade. No cinema ou na televisão, as ficções de Lynch parecem propor um jogo narrativo reflexivo. Tal jogo demanda ao espectador o esforço para desvendar a complexa estrutura que sustenta tais mundos ficcionais. Embora Lynch tenha executado mais projetos para o cinema, sua produção televisual é marcante. Twin Peaks (1990-91), sua primeira série televisiva, ainda hoje influencia outros mundos ficcionais criados para TV e fora dela. On The Air (1991-92) e Hotel Room (1993), embora menos conhecidas, são também narrativas ousadas que apresentam as marcas surrealistas e metalingüísticas do autor. No campo fílmico, Lynch criou um vasto repertório de filmes conhecidos por suas narrativas inusitadas e complexas como Inland Empire (2006), Lost Highway (1997), Mulholland Dr. (2001), Twin Peaks – fire walk with me (1992), Wild At Heart (1990), Blue Velvet (1986), entre outros.
Diante disso, buscamos, neste estudo, identificar as características comuns e distintas da narrativa complexa nas obras televisuais e cinematográficas de David Lynch, respondendo às perguntas: a complexidade se manifesta da mesma maneira no interior de tais obras? Quais seriam as similaridades e as divergências entre a narrativa complexa televisual e a cinematográfica? Para responder às perguntas, traremos à análise a série televisiva Twin Peaks (1990/91) e o filme Lost Highway (1997). Consideramos ambos projetos como representantes centrais da narrativa complexa lynchiana, respectivamente, na televisão e no cinema. A complexidade narrativa não é um fenômeno exclusivo de nossa contemporaneidade. Na Poética, por exemplo, Aristóteles definiu a Odisséia (Homère, século VIII A.C.) como uma epopéia de narrativa complexa. Quanto à Todorov (2013), ele considera As Mil e Uma Noites (narrativa oral em árabe, compilada à partir do século IX) e o romance epistolar Les Liaisons Dangereuses (Choderlos de Laclos, 1782) como narrativas também dotadas de complexidade. No domínio do cinema, podemos citar duas correntes da narrativa fílmica complexa distanciadas no tempo e no espaço: o “nouveau cinema” francês, caracterizado por Parente (2000) como cinema disnarrativo, do qual o exemplo mais conhecido é L’année dernière à Marienbad (1961) d'Alain Resnais et Robbe-Grillet ; e os “puzzle films”(Buckland, 2009) americanos realizados à partir dos anos de 1990, tais como Fight Club (David Fincher, 1999) e Lost Highway (David Lynch, 1997). A designação da teledramaturgia como de tipo complexo tem início à partir do estudo de narrativas seriadas dos anos de 1980 e 1990, como Hill Street Blues (Steven Bochco, 1981-87), Twin Peaks (David Lynch e Mark Frost 1990-91) et X Files (Chris Carter, 1993-2002). Dada a variedade de classificações, definições e manifestações da narrativa complexa, traremos as obras de Lynch para explorar tal conceito. O exercício de comparação entre o enredo complexo televisual e o cinematográfico em Lynch nos auxiliará a compreender os aspectos universais do complexidade narrativa, bem como suas particularidades em formas expressivas distintas: a televisão e o cinema. Este estudo também busca contribuir para o crescente debate sobre a categorização da narrativa complexa presente nos estudos de televisão (Mittell 2012; Benassi 2000 ; Booth 2011) e nos estudos de cinema (Cameron 2008; Buckland 2009; Kiss 2013; Thompson 2001, Bordwell 2006). |
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Bibliografia | BUCKLAND, Warren. Puzzle Films. Complex storytelling in contemporary cinema. Wiley-Blackweel, 2009.
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