ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Vício e Beleza e o gênero livre nos posados brasileiros dos anos 1920 |
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Autor | Ingrid Hannah Salame da Silva |
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Resumo Expandido | "Vício e Beleza", dirigido por Antônio Tibiriçá para a produtora Iris Film em 1926, apresentava cenas de nudez e tematizava o uso de substâncias entorpecentes justificadas por uma narrativa moralizante que condenava o vício e enaltecia a prática esportiva, tendo sido visto em diversas casas exibidoras em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Pelotas, Ponte Nova, Bahia, Recife, Pará, Manaus, Uruguai, Argentina, entre 1926 e 1934.
Por conta das cenas polêmicas para o momento de sua feitura, a relação de "Vício e Beleza" e dos filmes de perfil semelhante que o sucederam (“gênero científico”) com revistas como Cinearte foi bastante conturbada. Paulo Emílio Salles Gomes (1974) elenca algumas das questões caras ao periódico no livro Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. Dentre elas está a moralidade, tema defendido fortemente por Adhemar Gonzaga e Pedro Lima em busca de uma “higienização” do cinema brasileiro – no sentido de promover um cinema cujas temática e estética atendessem sobretudo ao modelo ficcional hollywoodiano, de selecionar os profissionais do setor com linha de pensamento e projetos em sintonia com as proposições desses autores, de se posicionar contra a feitura de naturais, posados “desviantes” (se opunham, por exemplo, à realização de filmes que atentassem contra os padrões de decoro) e escolas de cinema (para eles, sinônimos de cavação, exploração, amadorismo). A princípio o periódico chega a preterir a realização de posados científicos à produção de naturais, inclusive em 1926 divulga na sessão “Filmagem Brasileira” notas de leitores e trechos de matérias publicadas em outros periódicos que elogiavam a realização do primeiro longa da Iris Film. Dentre os argumentos estava a função educacional do mesmo, uma vez que este poderia atingir um público numeroso alertando-o contra os males das doenças venéreas e das drogas – cabe lembrar que durante a década de 1920, no Brasil, são implementadas políticas públicas de combate a doenças venéreas e aos chamados “vícios elegantes” (ópio, cocaína). Contudo logo se inicia uma campanha mais enfática contra a realização de filmes que atentassem contra os “bons costumes”– um dos maiores entusiastas desse movimento foi Octávio Gabus Mendes. O correspondente da revista em São Paulo argumenta que o “gênero livre” era uma alternativa para atrair o público e, apesar de suas estórias de fundo moralista, nada mais era do que uma desculpa gratuita para mostrar aspectos imorais da sociedade. Essa ambiguidade em relação aos filmes científicos, também conhecidos como de gênero “livre/ousado”, se encontra na atividade da Censura da época. Apesar das cenas de conteúdo controverso, alguns desses filmes obtinham aprovação dos órgãos censores com restrições, sendo permitidos ao público masculino e às senhoras. A preocupação em se realizar um cinema de cunho moral, ao mesmo tempo, revela como o conceito do “permitido socialmente” se flexibiliza diante do modo com que o tema é apresentado. Rubens Machado chega a afirmar que a atividade da Censura na década de 1920 é, em geral arbitrária, assumindo uma postura sistemática apenas nos casos dos naturais que mostrassem eventos políticos contrários as instâncias do poder, ou que mostrassem aspectos que desfavorecessem a imagem do Brasil no exterior. (MACHADO, 1996, p. 122-23). Apesar das restrições impostas ora pela crítica, ora pela censura, a "angulação científica" é adotada por outros produtores brasileiros a partir do sucesso de "Vício e beleza". Depois dele foram realizadas películas como "Morfina", "Veneno Branco", "Venenos da Humanidade", "Messalina", "Depravação" que também exploravam o erotismo e o vício no melodrama. Nesse sentido, o presente trabalho propõe-se a analisar como o filme de Tibiriçá foi percebido pela revista Cinearte, e como ele traz à tona discussões a respeito da relação do cinema com a modernidade, educação, moralidade e as preocupações de seu tempo. |
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Bibliografia | BARROS, Luiz de. Minhas memórias de cineasta. Rio de Janeiro, Artenova / Embrafilme, 1978.
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