ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A estética e a forma dos filmes subterrâneos de Morrissey e Warhol |
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Autor | Lucas da Silva Bettim |
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Resumo Expandido | Paul Morrissey nasceu em Nova Iorque e começou a colaborar com Andy Warhol em seus experimentos cinematográficos em 1965, aos 27 anos. Em um primeiro momento, a produção de cinema de Warhol consistia basicamente em experimentos com a câmera parada e pouquíssima intervenção de direção para retratar ações cotidianas e/ou provocadoras, como em Sleep (1963), Kiss (1963) e Blowjob (1964).
Dada a grande heterogeneidade das obras que compunham o cânone underground dessa época, a classificação específica de aspectos fílmicos baseada na dicotomia comercial x subterrâneo permanece borrada. No entanto, com a influência de Paul Morrissey, a falta de narratividade e a ausência de direção clara que caracterizavam essas produções e as reuniam no contexto do cinema underground foi cedendo espaço a roteiros mais elaborados e maior decupagem das cenas, flertando com as obras clássicas do cinema comercial. Após ser alvejado pela feminista radical Valerie Solanas, em 1968, o envolvimento de Andy Warhol nos filmes produzidos pela Factory diminuiu expressivamente. Paul Morrissey assumiu então oficialmente a direção das produções, lançando no mesmo ano Flesh (1968), seguido por Trash (1970) e Heat (1972). Esteticamente, os filmes de Morrissey ainda carregavam muitas das características dos primeiros filmes de Warhol: atuação improvisada, ausência de roteiro, trabalho mínimo de câmera e retrato do estilo de vida libertino e letárgico dos personagens. O diretor, no entanto, utilizava-se de narrativas mais tradicionais e maior controle técnico de som, imagem e edição. Mesmo contando com uma estrutura mais ortodoxa e com narrativas mais convencionais, Paul Morrissey afirma aplicar em seus filmes técnicas para contar histórias modernas e casuais, afastando-se do cinema clássico e seus roteiros normalmente presos a fórmulas e convenções. Ao tentar retratar o vazio da liberdade contemporânea, Morrissey lança mão de planos longos e estáticos e diálogos improvisados intermináveis, muitas vezes sem intenção explícita na narrativa, o que deixa o tempo diegético de cada cena dilatado e mais próximo ao tempo "real". Interpretados por atores não profissionais, os personagens tendem a ter os mesmos nomes de seus intérpretes, e atuam em papéis próximos a suas realidades, em um lugar que pode aproximar-se do documentário. Dada a presença imponente da câmera, entretanto, os atores estão conscientes de suas performances, transitando ao redor de uma fronteira não delimitada entre sua vida pessoal e a de seus personagens. O excesso de nudez nesses filmes, especialmente da nudez masculina, contrasta com a falta de erotismo na abordagem das relações sexuais, quase sempre ilustradas de forma degradante. Para Andy Warhol, a forma explícita do retrato da nudez nos filmes independentes contrapõe-se ao mainstream de Hollywood por questões eminentemente comerciais. O streap-tease a conta-gotas engendrado por Hollywood ao despir seus atores foi, portanto, assolado com o realismo despudorado dos “filmes de arte”. Defensor de uma ideologia extremamente conservadora, Paul Morrissey simbolizava um contraponto em relação às ideias transgressoras que envolviam a produção artística na qual o diretor se inseria. Essa tensão não escapa a seus filmes, que exploram ao mesmo tempo características comerciais e de vanguarda, condenam seus personagens mas deixam latente a compaixão por seus dramas. Esta comunicação busca elucidar aspectos, por vezes conflitantes, da estética e da forma desses filmes que compõem parte essencial da cinematografia underground de Nova Iorque dos anos 1960 e início dos anos 1970. |
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Bibliografia | CURTIS, David. Experimental cinema : a fifty year evolution. London : Studio Vista, 1971.
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