ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | CONSTRUÇÃO SONORA NO DOCUMENTÁRIO “EM TRÂNSITO”, DE ELTON RIVAS |
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Autor | Ana Cecilia dos Santos |
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Resumo Expandido | Introdução. Os recursos de gravação e seu fácil acesso, proporcionaram “novo” contato com o natural, imperfeito e inacabado (Salles, 2008)? Cada ideia encadeada, (re)vista em seus nós, é acessada pelo bando de dados e (re)projetada por outra partida dentro de um trajeto de criação. Nesse contexto, questões sobre autoria, também, são reflexos: somos, autores, em que medida, de algum fazer?
Santos (2008) discorre sobre o processo de construção da trilha sonora do documentário “Em Trânsito”, do Diretor Elton Rivas (2007), especificando as composições originais; bem como a ideia de re-construção musical, baseada nas sonoridades da música experimental de concerto. Como parte desse processo, analisa apontamentos de músicos e diretores sobre composição musical para imagens em movimento; contrapondo, no campo cultural, às mudanças proporcionadas, por compositores como Debussy, Stravinsky e Schoenberg. Concepções sonoras Santos (2008), ao descrever os processos de criação musical para o contexto da narrativa fílmica, deixa explícito as cadeias sígnicas utilizadas, relacionando apropriações e escolhas. Outro ponto importante nessa discussão (Santos, 2008), é a percepção sobre o transbordamento da escrita musical tradicional pelo som, cedendo lugar à escrita alternativa e aos processos de gravação. As canções, na primeira proposta, ancoradas no roteiro, imagens e sugestões do diretor, interagem com as ideias no percurso. Percebemos, o diretor como agregador, sob a ótica de processo, criando relações com seus agentes rumo ao projeto material (Salles, 2008). Observamos, ainda, a preocupação quanto ao caráter de unidade musical e auxilio à narrativa fílmica, mesmo que isso não signifique escolhas musicais parecidas com o ambiente étnico abordado. Uma unicidade elaborada por narrativas? Aproximando similaridades e eliminando diferenças, pasteurizamos as relações, apropriando e construindo sentidos únicos a objetos culturais, os quais se relacionam de forma analógica na cultura, pela interação das coisas, mas nem sempre pelo homem (Pinheiro, 2013). Na segunda versão da trilha, sonoridades modais são inseridas em cenas infantis, articuladas aos conceitos de culturas primitivas; da mesma forma, o timbre do vibrafone, ao lúdico, infantil e puro. Os trechos politonais utilizados em locais tensos da narrativa fílmica, geram afirmação dentro de uma visão menos tonal-romantizada - melodias melancólicas em modo menor. Métricas usadas de forma fluída nas transições da narrativa e possibilidades atonais proporcionam um “não pertencimento” à cultura indígena, ao mesmo tempo em que pertence a qualquer outra; a ideia de aproximar ambientes sígnicos afastados e relaciona-los, requer novas articulações e mobilidades nas tensões. Relações e escolhas determinadas em redes (o fio e o nó). A problemática pode estar nos clichês. Nos padrões predominantes eleitos e praticados culturalmente. As sonoridades experimentais, menos usuais em documentários, em contraponto com roteiro e imagem, estaria afastada deles? Sim e não! A exemplo dos elementos musicais estabelecidos por gêneros, utilizados na primeira versão, versus a música de concerto, negando toda a influência popular e de mercado. Contudo, saímos de um molde e caímos em um “não” molde, modelo opositor, no qual se nega e afirma o primeiro. Novas relações ou novos modelos? Do ponto de vista do som em documentários, tais ideias são vistas como novas, pois fazem referência a fontes menos usuais neste ambiente; relações sensório-motoras em Gestalt, rumo novos estabelecimentos. Os fragmentos, possivelmente existentes no âmbito dos estudos musicais para o audiovisual, derivam-se dos conflitos entre letra e fala/ grafia e som? Pela “gourmetização” ou para a fome, os estudos composicionais abrem leques no conhecimento sobre as coisas sonoras, tempo-espaço em movimento, questionando o signo puro em música no audiovisual, e discutindo a (co)existência de universos, do “puro” - não puro - e do impuro - nem tão impuro. |
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Bibliografia | PINHEIRO, Amálio. América Latina: barroco, cidade, jornal. São Paulo: intermeios, 2013a.
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