ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Reconstituindo o filme No Rastro do Eldorado de Silvino Santos |
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Autor | Sávio Luis Stoco |
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Resumo Expandido | No Rastro do Eldorado (1925) é um dos longas-metragens silenciosos mais importantes na trajetória do cineasta Silvino Santos (1886-1970), no entanto é um filme eclipsado na historiografia do cinema brasileiro. Primeiro pelo fato de ser atualmente considerado perdido a rigor, com uma cópia incompleta depositada na Cinemateca Brasileira (CB), constando apenas imagens em movimento, sem intertítulos. Situação em si que resulta em dificuldade de compreensão e no acesso às suas principais motivações resultantes da relação entre o comerciante amazonense J. G. de Araújo (1887-1940), financiador do cineasta e o explorador norte-americano Alexander Hamilton Rice (1875-1956) - cuja última e estratégica viagem científica o filme registra transpondo importantes e dificultosos rios do atual estado de Roraima. A partir da produção de uma reconstituição digital da obra por meio da consideração dos intertítulos originais localizados em pesquisa no acervo do crítico Alex Viany, depositada na Cinemateca do Museu de Artes Moderna do Rio de Janeiro, e também considerando uma diversidade de fontes fílmicas referentes a No Rastro do Eldorado, tais como a versão mais conhecida na CB, uma versão um pouco mais longa que desde 1992 localiza-se no Smithsonian Institution (EUA), e fragmentos utilizados no documentário O Cineasta da Selva (1997), de Aurélio Michiles. Um procedimento prático empírico baseado em análise meticulosa, plano a plano, linha a linha, das duas instâncias que compõe a narrativa fílmica e se complementam: imagens em movimento e texto. Assim geramos a versão do filme que acreditamos ser a mais completa possível*, segundo o que Paulo Emílio Salles Gomes chamou de “reconstituição ideal”. (*Versão de caráter preliminar, atualmente sendo revisada em meu doutorado no PPGMPA-USP). Tal procedimento trouxe relevantes elementos novos para uma abordagem histórica tematizando os lugares e intenções do título cinematográfico trabalhado. Buscamos assim apontar relações da obra com particularidades de aspectos econômicos, geográficos e culturais daquela região brasileira, incluindo cotejamentos com outras formas visuais. Trata-se da narrativa visual de uma viagem que se concentra em registrar etapas da mais lembrada expedição científica do geógrafo norte-americano Hamilton Rice, percorrendo uma seção da América do Sul tida como desconhecida e selvagem; próximo à divisa com a Venezuela, uma parte do estado do Amazonas (atual, Roraima) de dificultoso acesso. Local considerado então pelas potências imperialistas europeias e norte-americanas na época um dos últimos pontos em branco nos mapas terrestres produzidos por eles. Na perspectiva dos capitalistas amazonenses, aquele território há poucas décadas se torna alvo de investimentos comerciais por conta de ocasionais vastos campos facilitando à pecuária, havendo ainda a promessa de riquezas naturais inexploradas, principalmente de madeiras nobres e minerais. Motivos estes suficientes para envolver o capital e mercados internacionais. Mais uma vez é a elite regional, na busca por alternativas para a crise da economia da borracha, que financiava e deixava profundamente suas noções, nem sempre tão explicitamente, na produção de Silvino Santos, cineasta cuja obra destacou-se pela profusão, elaboração e uso moderno das formas cinematográficas do período. Explorador amazônico desde os primeiros anos do século 20, Rice deixou para essa que é sua sétima e última exploração o desafio de transpor e revelar o rio mais dificultoso da região, o Uraricoera. Um curso d´água que estava fincado no imaginário dos discursos amazônicos, sobretudo os empreendidos pelos viajantes estrangeiros, pelas dificuldades de navegação por conta das suas corredeiras e cachoeiras e por ser território de diversas etnias indígenas consideradas "selvagens" – aspectos destacados no filme. Trata-se de uma forma de ler as graduações de “incivilização” da região do Rio Branco, também cultivada pela elite amazonense financiadora de Santos. |
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Bibliografia | COSTA, S. V. Eldorado das ilusões: cinema & sociedade: Manaus (1897-1935). Manaus: Edua. 1996.
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