ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Os alquimistas do cinema: a materialidade da imagem dos cine-artesãos |
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Autor | Andrea C. Scansani |
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Resumo Expandido | É evidente a consolidação digital da produção e distribuição cinematográficas. Não apenas pela predominância de obras e salas digitalizadas mas pelo desmantelamento da infraestrutura física e humana dos últimos cento e poucos anos de sua história em celuloide. A corrida tecnológica pela imagem perfeita ou pelos ambientes virtuais imersivos vive seu prelúdio enquanto o cinema experimenta expansões, transgressões e mutações.
Neste desmonte das estruturas técnicas tradicionais de manipulação da imagem foto-cinematográfica podemos observar crescentes movimentos artísticos que navegam contracorrente. Desde laboratórios caseiros que experimentam processos alternativos a grupos que se apropriam dos aparatos abandonados pela indústria para uso artístico, como os laboratórios da rede filmlabs.org (www.filmlabs.org). Os trinta e quatro laboratórios dessa network que abrange os cinco continentes, não são prestadores de serviço, muito pelo contrário, têm como diretriz compartilhar sua expertise com os cineastas interessados em desenvolver uma maneira própria de manipulação do material sensível e experimentar técnicas laboratoriais pessoais. Não estamos diante de algo novo se pensarmos na longa e artesanal trajetória do cinema experimental. No entanto, a estrutura industrial que alguns desses núcleos possuem nunca esteve ao alcance da experimentação artística individual. Os laboratórios profissionais sempre estiveram atrelados aos padrões determinados pelo mercado e em raras vezes escaparam aos seus domínios. O serviço laboratorial customizado sempre foi o sonho de qualquer diretor de fotografia, uma questão que para o cinema experimental sempre esteve resolvida mesmo que com improvisos. Longe de alimentarem o fetiche pela película cinematográfica ou mitificar técnicas como superiores ou opostas a outras, esses artistas cumprem um papel chave no livre trânsito entre as práticas transmidiáticas contemporâneas nas quais a manipulação fotográfica ocupa um lugar singular na construção do corpo da imagem. São, em sua grande maioria, artistas que alimentam as salas alternativas de exibição, protagonizam performances, instalações, exposições e, têm no desenvolvimento de seu processo de criação, a necessidade de manipulação direta dos ingredientes que compõem suas obras. Desde a operação da câmera ao manejo do projetor, passando pela alquimia das misturas e intervenções de toda sorte no material sensível. Reconhecendo a materialidade como componente primeiro na configuração da imagem cinematográfica - aqui compreendida de forma ampla, próxima ao sentido literal e etimológico da palavra: o da escrita do movimento - e levando em conta que tal materialidade é elaborada inicialmente por um corpocâmera capaz de mover-se, sensibilizar-se e codificar estímulos luminosos, a imagem originária deste processo - o corpofílmico - é notoriamente heterogênea e qualquer alteração sofrida por uma de suas variáveis afetará a constituição final do organismo. Dessa maneira, a manipulação laboratorial executada por esses grupos torna-se uma valiosa ferramenta na realização artística e na reflexão sobre quais parâmetros podemos pensar o vínculo entre visibilidades e invisibilidades, entre ingredientes físicos e desejos intangíveis inerentes à imagem. Poderíamos olhar para as imagens em movimento não apenas como uma entidade física capaz de provocar sensações e produzir pensamento mas como um corpo vivo, de estrutura moldável, configurada inicialmente pela luz e esculpida ao longo de sua existência? Qual o papel do artista para a criação de invisibilidades através dos aspectos extremamente físicos da imagem? Aprofundaremos o pensamento sobre tais questões ao concentrarmos nossa apresentação nas produções do L’Abominable (l-abominable.org) um dos integrantes da rede filmlabs. A escolha desse grupo se dá em razão de sua longa tradição no cinema experimental e por conter em seu catálogo obras que atravessam os dois períodos históricos aqui colocados em questão. |
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Bibliografia | AMIEL, V. Les corps au cinéma, P.U, France, 1998
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