ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Do repente ao BRock: música e invenção nos filmes de Vladimir Carvalho |
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Autor | Marcos Pierry |
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Resumo Expandido | Vladimir Carvalho, 80 anos de idade em 2015. Sem jamais perder seu bem marcado traço de nordestino, o documentarista nascido em Itabaiana (PB), ao longo de mais de cinco décadas de atividade tornou-se um cineasta do Brasil. Morou e atuou como realizador em seu estado natal (Paraíba), na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e, desde o fim dos anos 1960, vive em Brasília. Ao propor leituras instigantes para temas e personagens localizados em diferentes regiões do país, com o diagnóstico do particular sempre apontando para uma questão mais ampla, (trans)nacional, Vladimir Carvalho passar a acumular uma preciosa coleção de experiências em termos de banda de sonora, da qual esta comunicação pretende destacar o uso da canção popular e pontuais extensões no eletrônico-experimental.
Do primeiro trabalho na direção, Romeiros da Guia (1962), ao mais recente, Rock Brasília – Era de Ouro (2011), o realizador, não sem favor mais fortemente identificado com a sonoridade regional do Nordeste, foi capaz de montar uma cartografia musical variada, de personalidade tão pulsante quanto o saldo macro de sua filmografia quando vista em conjunto. Ao perscrutar as linhas de força do ambiente criativo musical em que o cineasta toma parte, verifica-se, em paralelo à virada – nem sempre dicotômica – dublagem-som direto e em seguida as possibilidades do digital, um fértil laboratório onde têm vez: O Brasil profundo de Ô, Mana (em Aruanda, o curta seminal de Linduarte Noronha, em que Vladimir parece ter exercido um papel que transcende em muito o crédito oficial de assistente de direção) e o experimentalismo de Conrado Silva, ladeando Caetano Veloso, em Vestibular 70; a jovem guarda de Roberto Carlos (Quero que Tudo Vá pro Inferno) e Brancato Júnior (Era um Garoto que Eu Como Amava os Beatles e os Rolling Stones) em O País de São Saruê (1971), assediando, uma vez mais vez, a pureza da canção regional (no filme a cargo de José Siqueira, Marcus Vinícius e Luiz Gonzaga); o sampler Villa-Lobos/Edino Krieger em Paisagem Natural (1990) e Zé Ramalho e o roqueiro, então aluno de Carvalho, Mário Salimon em Conterrâneos Velhos de Guerra (1990); o atonalismo de Fernando Cerqueira em A Pedra da Riqueza (1975) e o pop-rock politizado da Geração 80 em Rock Brasília. Seja na escolha do tema sonoro-musical, no gesto curatorial do colaborador quem o acompanha ou ante diferentes condições materiais e tecnológicas, os aspectos da variada proposição musical contida na filmografia de Vladimir Carvalho permitem antever que tanto o trabalho de edição crítico-dialética quanto a “inspiração lúdica” (MATTOS, 2008) carregam as baterias da criação deste nome fundamental do cinema moderno brasileiro também, ao destacarmos da imagem, o que se ouve. Um cotejo que, no exercício da análise, pode render novos caminhos para acompanharmos o cinema de Vladimir Carvalho – em sua artesania e lirismo, militância e transgressão, originalidade e autoria. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean Claude.Cineastas e Imagens do Povo. São Paulo: Companhia das letras, 2003.
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