ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A travestilidade no cinema brasileiro até 1950 |
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Autor | Mateus Nagime |
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Resumo Expandido | O objetivo deste trabalho é apresentar uma pesquisa de filmes brasileiros até 1950 que incluem a travestilidade, ou seja, possuem homens vestidos de mulheres ou mulheres vestidas de homens em algum momento de sua trama. É importante notar que a travestilidade nem sempre possui um caráter sexual, sendo o travesti – uma pessoa que se veste como o gênero oposto na maior parte do tempo – apenas uma das especificidades que o termo possui.
Como esperado, a maior parte da travestilidade encontrada no corpus ocorre em filmes de tema carnavalesco ou que se passam em um mundo teatral, ocasiões mais propícias para permitir a uma personagem se vestir como outro gênero. Na maioria dos casos observamos homens se vestir de mulher - Tererê não Resolve (1938), Carnaval no Fogo (1949) - mas em alguns casos as mulheres também aparecem em cena com roupas masculinas, como . A travestilidade com fins cômicos é geralmente eliminada de estudos queers por ter em sua origem um tom galhofeiro, um recuso bem tradicional de teatro e com mero interesse em divertir o público. É preciso tomar cuidado para não configurar automaticamente a etiqueta queer a um filme que apresenta personagens travestidas, a maneira que a chanchada fez até dizer chega. Como lembra Sérgio Augusto em “Este mundo é um pandeiro” (p. 184), citando Parker Tyler, "todas as folias do travestismo, na trilha ortodoxa de A tia de Carlitos (Charley's Aunt) — à qual, diga-se, filiam-se as nossas chanchadas —, não passam de 'brincadeirinhas de heterossexuais”. Porém, como alerta James Green em seu ensaio sobre a homossexualidade no Brasil no século XX, muita pessoas com desejos sexuais velados por pessoas do mesmo sexo ou meramente por vestir roupas designadas pela sociedade para as pessoas do gênero oposto aproveitavam as folias do carnaval para extravasar de forma aceitável esses desejos secretos. Nas páginas 21 a 22 ele escreve: “O Costume, entre certos homens brasileiros, de travestir-se com roupas típicas das mulheres afro-brasileiras há muito fazia parte do carnaval. Contudo, esses foliões não eram os usuais maridos ostentando jóias e vestidos chamativos emprestados de suas irmãs, mães e namoradas, no intuito de atirar-se a quatro dias de festas e desinibição. Suas personificações coloridas da cantora popular mais famosa da década, e de suas roupas estilizadas, inequivocamente excederam as transgressões carnavalescas do sexo masculino da época. Essas falsas baianas à la Carmen Miranda engajaram-se numa subversão festiva que arremedava tanto o comportamento sexual normativo quanto o tradicional hábito de travestir-se durante o carnaval. Sua performance festiva nas ruas do Rio de Janeiro era uma afirmação pública das próprias noções de masculinidade e feminilidade desses homens, noções que desafiavam e ao mesmo tempo reforçavam os padrões de gênero no Brasil na primeira metade do século XX”. Buscamos, portanto, fazer um levantamento de filmes em que aparecem personagens travestidos para avaliar em quais casos podemos fazer uma leitura queer e como ela pode ser inserida dentro das questões tratadas pelo filme. |
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Bibliografia | BENSHOFF, Harry M. & GRIFFIN, Sean. Queer images: A history of gay and lesbian film in America. Oxford: Rowman & Littlefield Publishers, Inc., 2006.
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