ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Gêneros em migração: formas discursivas e práticas sociais |
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Autor | Rosana de Lima Soares |
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Resumo Expandido | A proposta tem como objetivo a análise de dois filmes argentinos – "Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual" (2011, Gustavo Taretto) e "O crítico" (2014, Hernán Guerschuny) que, longe de poderem ser enquadrados em definições estanques, carregam elementos híbridos que transitam entre o humor e o amor. Considerada a partir de uma filmografia hegemônica como a norte-americana (em relação a uma suposta “periferia do cinema” na qual se encontraria também o cinema argentino), a mistura desses elementos resulta em uma vasta produção, genericamente agrupada sob a rubrica “comédias românticas”. A partir dessa caracterização genérica, propomos destacar nos filmes aspectos narrativos, estéticos e estilísticos que possam ser pensados a partir de fragmentos (re)apropriados de um gênero impuro em sua definição. O trabalho se divide, assim, em duas partes: num primeiro momento, trataremos de conceituar elementos mínimos que possam ajudar na definição da forma genérica em questão a partir de filmes reconhecidos como “comédias românticas”. Num segundo momento, destacaremos nos filmes analisados elementos de humor e de amor que, ao mesmo tempo permitem uma aproximação ao modelo originário e a apresentação de novas formas organizadoras. Vale notar que o processo de reconhecimento/desconhecimento dessa mescla de fragmentos (e suas variações) irá contribuir para pensarmos o cinema argentino contemporâneo em perspectiva crítica, propondo a demarcação do conceito de "metagêneros cinematográficos" como formas discursivas e práticas sociais em constante migração. Além disso, o próprio gênero escolhido para nossa reflexão possui marcas que o colocam em lugar periférico em relação à produção cinematográfica dominante. Ao tratar de gêneros cinematográficos enquanto práticas sociais, afirmamos que os mesmos não se colocam como modelos estáveis ou invariáveis, mas se relacionam com aspectos ligados à produção, à recepção e aos próprios filmes. Consequentemente, os gêneros não podem ser caracterizados como tipologias. Ao contrário, são diferenciados uns em relação aos outros e, desse modo, circulam e ganham sentido, “mas esse sentido, longe de ser estável, varia no curso das migrações que conhecem os gêneros, da concepção dos programas até sua recepção” (Jost, 2004, p.31). Se assumirmos que a cultura midiática nos insere, de antemão, nesse intervalo de identificação e transgressão dos gêneros convencionais, transformando-os em gêneros híbridos, faz-se necessário buscar teorias e metodologias para pensar tais definições. Nos filmes analisados, notamos, para além das narrativas encenadas, elementos que desafiam os cânones do cinema contemporâneo de modo crítico e, ao fazê-lo, refletem também sobre o próprio gênero no qual se colocam. Nessa perspectiva, o gênero constitui “uma prática cultural, um conjunto de características, que se modifica em cada novo exemplo que é produzido. São definidos como sistemas de orientações, expectativas e convenções que circulam entre a indústria, os sujeitos espectadores e o texto” (Mazziotti, 2002, p.205). Mais do que uma mescla de formas genéricas, há um atravessamento entre diversos gêneros, como se essas formas estivessem em movimento. Tal processo se realiza por meio de apropriações e ressignificações que englobam a indústria cinematográfica, os espectadores e os filmes produzidos, ampliando os universos ficcionais dos filmes e possibilitando, ao mesmo tempo, o reconhecimento do já conhecido e o encontro com o irreconhecível dentro das formas genéricas evocadas. |
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Bibliografia | ALTMAN, R. Los géneros cinematográficos. Buenos Aires/México: Paidós, 2000.
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