ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A cara índia do documentário argentino contemporâneo |
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Autor | Maria Celina Ibazeta |
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Resumo Expandido | As primeiras imagens documentais de índios no território argentino aparecem na curta introdução à ficção El último malón (1917) de Alcides Greca. O filme é uma reconstrução histórica do “malón”, palavra usada para descrever os ataques violentos e inesperados dos índios aos brancos, ocorrido em 1904 no povoado de San Javier, na província de Santa Fé. Político e jornalista, o diretor reproduz na sua obra a clássica dicotomia civilização versus barbárie, inspirada no Facundo (1945) de Domingo Sarmiento, e representa o índio como um selvagem.
Outro filme mudo que teria como protagonistas os índios, neste caso as tribos Tehuelches, Onas, Yámanas e Alacalufes, é Terra Magellaneche (1933). Este documentário foi filmado pelo sacerdote italiano Alberto María de Agostini, que chegou a Tierra del Fuego seduzido pelo projeto de evangelização que a partir de 1880 seria conduzido pela congregação salesiana. Esta obra destaca o trabalho dos missionários para proteger e educar os índios e aliviar sua situação de pobreza, e comemora a força da civilização, de que o diretor e os salesianos faziam parte. A missão de resgatar a cultura de povos não ocidentais que estavam em vias de extinção ou que estavam se transformando rapidamente pelo contato com o branco foi um objetivo muito concreto no caso de Jorge Prelorán. Muito influenciado pela obra de Robert J. Flaherty, participou no projeto de arquivo cinematográfico de tradições populares junto ao folclorista Augusto Raúl Cortázar. Casabindo (1965), Chucalezna (1968) e Medardo Pantoja (1969) são alguns dos títulos que retratam a vida e os costumes dos índios do norte argentino. Logo depois, com o filme Hermógenes Cayo (imaginero) (1969), Prelorán definiu um estilo mais pessoal, chamado por ele de “etnobiográfico”, no qual se foca na história de vida de um único personagem, contada por ele mesmo. Sem interrupções ou perguntas, Prelorán gravou depoimentos de seus personagens que depois ilustrou com imagens. Na década de sessenta, o documentário militante de Fernando Ezequiel Solanas e Octavio Getino La hora de los Hornos (1968) filmou processões religiosas de índios durante a semana santa e a situação precária em que viviam. Quase não os ouvimos, mas a voz over expôs a situação de pobreza e opressão do índio a partir de uma ideologia de esquerda revolucionária. Recentemente apareceu uma leva de documentários interessados nas questões indígenas que dialogam com a tradição anterior. Octubre Pilagá, relatos sobre el silencio (2010) de Valeria Mapelman, conta a história do massacre dos Pilagá pelas mãos da Gendarmeria Nacional em Formosa, no ano 1947, durante o primeiro governo de Juan D. Perón; Tierra Adentro (2011) de Ulises de la Orden, coleta depoimentos de pesquisadores e de membros do povo Mapuche na procura de respostas às causas da Conquista do Deserto e na busca de reparações econômicas para as vítimas; Ceremonias de barro (2011) de Nicolás Di Giusto reconstrói através da voz de Candelario a história dos Diaguitas Calchaquíes e a comunidade indígena Quilmes; e El etnógrafo (2012) de Ulises Rosell, que descreve a vida de John Palmer, etnógrafo que mora há trinta anos na comunidade Wichi no Chaco saltenho e tenta resolver um problema surgido por conta da falta de correspondência entre as leis internas da comunidade e as leis nacionais. Este artigo se propõe a analisar as estratégias destes documentários contemporâneos para apresentar temas muito caros ao universo indígena como: a construção e a reprodução da identidade étnica, a recuperação da terra e a impunidade relativa aos casos de violência e/ou injustiças perpetradas por instituições oficiais. Este trabalho tenta pensar junto às obras: qual é a forma mais apropriada para dar conta da situação dos índios hoje na Argentina e que aspectos da tradição, o documentário contemporâneo reafirma e/ou desconstrói. |
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Bibliografia | CAMPO, Javier. Cine documental argentino. Entre el arte, la cultura y la política. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012.
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