ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Sussurros de auteurs: proposições para novos caminhos da autoria no cinema hollywoodiano |
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Autor | Patricia de Oliveira Iuva |
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Resumo Expandido | Ao proclamar a morte do autor, a fim de que o leitor ganhasse o devido lugar nas análises literárias, Barthes influenciou todo campo da crítica teórica, tanto no cinema quanto em outras áreas. John Caughie (2007) ressalta que após a morte do autor proclamada por Barthes, tornou-se constrangedor no âmbito acadêmico e científico sequer considerar a possibilidade do sujeito autor, o que para ele significa que determinados avanços que poderiam ter sido empreendidos nos estudos de autoria foram naturalmente abandonados. Tão importante quanto a morte do autor de Barthes no contexto estruturalista dos estudos cinematográficos, foi também a conferência “O que é um autor”, de Michel Foucault. Para Foucault (2009), não basta sinalizar e/ou constatar o apagamento/morte do autor, é necessário localizar este espaço ausente do autor e identificar sua função: “a função-autor é, portanto, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedade” (FOUCAULT, 2009, p.274). As formulações de Barthes e de Foucault, quando cotejadas, propiciam aberturas conceituais na discussão da autoria no cinema que reverberam positivamente na abordagem específica do meu estudo, que se refere às provocações suscitadas pelo objeto empírico aqui proposto: o making of documentário. A concepção de texto barthesiano enquanto um tecido de citações, espaço de dimensões várias, provenientes dos muitos focos da cultura, atrelada à função-autor de Foucault compõe um quadro teórico-metodológico em que as questões da autoria e dos projetos artísticos no seio do gênio do sistema podem ser repensadas e retiradas do lugar comum já aceito e intocável/indiscutível no âmbito acadêmico. De acordo com Caughie (2007) as questões acerca da arte e autoria podem ainda ser um incômodo nos complexos engajamentos com o cinema. A provocação vai além, e, assim como John Caughie (2007, p.32), também me questiono: “dentro do gênio do sistema ainda há espaço para o gênio do artista?”
As inflexões propostas por Foucault e Barthes contribuem sistematicamente para discutir as relações de autoria postas em jogo no encontro entre o diretor-realizador do making of e o diretor-auteur do filme. A função-autor desestabiliza a noção de um sujeito como origem da obra, pois passa a contemplar as condições sob as quais tal sujeito se engendra enquanto autor da obra. Ou seja, trata-se de verificar um horizonte de possibilidades enunciativas referentes a uma dada época e um dado lugar. Em outras palavras, a função-autor foucaultiana rompe com uma relação única de autoria e nos dá a ver as sombras de outros autores potenciais, outras subjetividades, tais como a do diretor do making of, bem como as subjetividades envolvidas no processo de produção cinematográfica. A partir dessas reflexões é possível constatar que os condicionamentos de ordem histórica suscitam a cada época novos regimes de autoria. Isso vale igualmente para novas representações dos lugares/espaços ocupados pelo autor. Não se tem mais o ideal romântico da autoria, mas um uso discursivo e a instalação do autor que serve à obra bem como às repercussões da obra. Diante dessa lógica de funcionamento, contemplo os MODs enquanto produtos cujos discursos, ao reafirmarem o diretor-auteur, asseguram a perpetuação de uma dada estrutura social e relações de poder. Ao mesmo tempo, porém, tendo em vista uma perspectiva dinâmica do espaço social, passo a considerar outra ordem de renovação dos indivíduos: o diretor-realizador do making of. Acredito que trazer esses questionamentos implica reconsiderar os dispositivos e as formas de elaboração do(s) sujeito(s) enunciador(es) e seus devidos espaços de ocupação autoral, de modo que o olhar sobre os extra-fílmicos, mais especificamente os making of documentários, possibilita um novo caminho para as investigações acerca da autoria no cinema hollywoodiano. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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