ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Paulo Emilio e o Cinema Novo: retorno a um paradoxo historiográfico |
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Autor | Mateus Araujo Silva |
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Resumo Expandido | Por sua atividade no seio da Cinemateca Brasileira e por sua militância crítica, Paulo Emilio contribui, mais do que ninguém, para o surgimento do Cinema Novo nos inícios dos anos 60. Seus textos e suas posições marcaram profundamente alguns dos expoentes do movimento, como Glauber Rocha, David Neves, Paulo Cesar Saraceni e Gustavo Dahl. No entanto, desde aquele momento até a sua morte em 1977, ele não chegou a consagrar nenhum texto decisivo sobre os principais filmes nem sobre os principais cineastas do movimento, dos quais foi cúmplice de várias formas, e pelos quais parecia ter uma autêntica admiração. E isto apesar de sua tão comentada conversão tardia ao cinema brasileiro, do qual passou a se ocupar prioritariamente a partir de meados dos anos 60. A desproporção entre a importância da sua figura para os cinemanovistas e a magreza da sua contribuição crítica para o debate sobre os filmes do movimento se torna ainda mais desconcertante se lembrarmos quão intensa foi a sua atividade entre 1962 (ano de eclosão do movimento) e 1977 (ano de sua morte) e quão atento ele esteve aos filmes dos cinemanovistas, que viu em sua grande maioria e dos quais deixou muitas notas inéditas, consultáveis em seus arquivos doados à Cinemateca Brasileira. Ora, se saudou com entusiasmo o surgimento do movimento, se viu quase todos os seus filmes, se chegou a participar de alguns como roteirista e se travou relações de amizade e estima com os cineastas, por que Paulo Emilio não nos deixou textos marcantes sobre o corpus cinemanovista? Mais do que um paradoxo, esta questão encerra um verdadeiro enigma (senão o maior de todos) da historiografia do cinema brasileiro moderno. Ao desconcerto que ele provoca ainda hoje, não há nada de comparável em outros campos da produção cultural brasileira, nos quais nossos melhores críticos (pensemos em Antonio Candido, Décio de Almeida Prado ou Mário Pedrosa, por exemplo) nos deixaram textos muito mais significativos sobre a melhor produção brasileira da época.
Para enfrentar o enigma, vamos sugerir que Paulo Emilio preferiu se pronunciar sobre o Cinema Novo de uma perspectiva mais historiográfica do que propriamente crítica. Ora, ao discutir o cinema brasileiro, sua perspectiva historiográfica se afastou frequentemente daquela assumida pelos cinemanovistas, que viam o movimento como um momento culminante da nossa tradição cinematográfica, concebida por eles num esquema claramente teleológico. Paulo Emilio deixou varios gestos claros de afastamento desta visão interna do grupo: crítica ao livro de Glauber Revisão Crítica do Cinema Novo (1963), valorização posterior do filme brasileiro ordinário presente no mercado, reexame do jovem Humberto Mauro (no Doutorado tardio de 1972) sem a visão teleológica cara aos cinemanovistas que o adotaram como precursor etc. Trata-se de pensar entao o sentido e a estratégia do crítico sob este conjunto de gestos. |
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Bibliografia | Melo e Souza, José Inácio. Paulo Emilio no paraíso. Rio de Janeiro, Record, 2002.
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