ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Sermões de Júlio Bressane: A Vertigem Barroca, A Voz Repercutida |
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Autor | Adriano Carvalho Araújo e Sousa |
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Resumo Expandido | Proponho analisar trechos do filme Sermões: A História de Antônio Vieira de Júlio Bressane, discutindo elementos que repercutem a vibração e a vertigem barroca: o som e o silêncio; o cheio e o vazio etc.
Em duas sequências, ouve-se um texto repetidas vezes: a primeira começa com o plano em que Vieira está rezando em frente a um altar e o ouvimos dizer “A novidade do novo mundo...”, duas ou três vezes, bem baixo, antes de ouvir o sermão em off e por inteiro; a segunda, antecipa “As lágrimas de Heráclito”, o padre está diante de uma luminária. Se nesses dois momentos tem-se o áudio dobrado como imagem, em um terceiro, na performance de Haroldo de Campos e Alberto Marsicano, temos a própria imagem dobrada. O processo de transcriação permite a Bressane transitar por literatura e pintura, com ênfase na oralidade. Por exemplo, quando remete à parequese, figura constante dos sermões do padre, numa paronomásia audiovisual com pinturas de Velásquez e Botticelli: o Momento do “Vieira venera Vênus” (Campos, 1995). Ou ainda, a voz profética que ecoa pelo filme todo, com a sua dimensão utópica e de uma busca: de um lado, a restauração via Sebastianismo; de outro, a transcriação do signo Vieira, ou seja, sua amplitude, sua reverberação na cultura, mais do que uma cinebiografia. Em Sermões, as performances recorrem ao texto de Vieira para trazer a voz à cena com as impostações de Othon Bastos e seu leve sotaque baiano. A voz aponta para a presença, para a personagem de profunda erudição e ao mesmo tempo, sua poética vibrante que em tudo traduz o barroco e sua reverberação nas artes e na cultura brasileira. A ideia de oralidade, fundamental em Meschonnic (2010), permite extrair relações de uma percepção de oralidade como presença, gesto, performance (Pires Ferreira, 2007; Zumthor, 2001). Voz e oralidade aí trazem uma percepção do poético, do fazer do texto como performance, de um texto que é elaborado para se performar. Meu argumento é investigar como Bressane procura dar uma ideia em imagem, do corpo desse texto, de uma inserção do corpo operada na literatura. A voz de Vieira com suas profecias e sermões conduz o cineasta a um trabalho com imagens que pretende também uma cartografia luso-brasileira. A repercussão da imagem do mar coloca sua leitura como signo da viagem em literatura de língua portuguesa: o mar está para ela como o sertão para a literatura brasileira (Lourenço, 2001). |
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Bibliografia | BRESSANE, Júlio. Conversa com Júlio Bressane/Miramar, Vidas Secas e o Cinema no Vazio do Texto. Cinemais, n. 06, Rio de Janeiro, jul.-ago. 1997. Entrevista a Geraldo Sarno e Carlos Avellar.
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