ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Pré-cinemas e a impressão de realidade |
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Autor | Tereza Moreira de Azambuja Rodrigues |
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Resumo Expandido | Com o surgimento do cinema tendo acontecido no fim do século XIX, ele ficou desde sua origem sujeito à essa confusão entre realidade e representação. Instrumento de exploração da curiosidade de um grande público, o que trazia desde o princípio um interesse econômico, o cinema estava envolvido no mito da ‘reprodução das aparências’, da ‘duplicação do mundo’ (XAVIER, 1978).Porém, toda representação é também uma deformação da mesma realidade que representa, uma vez que sua forma de representar o real é uma transposição, uma tradução, uma mediação, de um mundo real para um modelo abstrato.
Uma abordagem para a questão da representação e da realidade é a da psicanálise, usada por Jean-Louis Baudry (1975). Para Baudry, o aparato cinematográfico “cria” uma impressão de realidade, que é comparável à experiência que se tem quando se está sonhando. Ele também é comparável à condição dos prisioneiros da caverna de Platão, que estão presos olhando para as sombras das figuras se mexendo, assim como os espectadores numa sala de cinema estão sentados em uma sala escura — segundo o autor, a imobilidade é que é a característica crucial para que se instale a imersão do cinema, e a para que se atinja esse mais-que-real, do qual o autor fala que o dispositivo do cinema é capaz. Baudry compara também as figuras de barro usadas para a projeção das sombras na alegoria da caverna com o filme fotográfico utilizado no aparato cinematográfico para a reprodução das imagens, e o som que era feito na hora e que ficava ecoando na caverna com o som que era tocado ao vivo como acompanhamento dos filmes na era do cinema silencioso. Ainda assim, o autor ressalta que a interrupção da motricidade é a condição essencial para que os espectadores tomem as imagens exibidas como realidade — a escuridão faz com que o espectador entre numa espécie de “transe”. O cinema, assim, transporta o sujeito para um estado de quase-alucinação da realidade, um estado em que não se sabe mais o que é o mundo real e o que é o cinema, assim como é a impressão de realidade num sonho. Ele chama essa impressão de realidade que é característica do cinema de “efeito de real”. Baudry afirma que o efeito de real está diretamente relacionado com a percepção do sujeito, e não com o caráter de fidedignidade com a realidade ou verossimilhança interna do filme em si, e muito menos com a técnica usada para a reprodução das imagens. O desejo do cinema é “obter da realidade uma posição, uma condição na qual o que é visto não seja mais distinguível de representações.”(Idem, p.705) É uma característica das alucinações: a falta de distinção entre representação e percepção, representação tida como percepção, “a falta de distinção entre ativo e passivo, entre a experiência de agir e sofrer, é a não-diferenciação entre os limites do corpo(...)”(Idem, p.702). A impressão da realidade e o desejo do cinema, através do dispositivo cinematográfico, vão mimetizar uma forma arcaica de satisfação que é experienciada pelo sujeito ao reproduzir esta cena. Antes mesmo do surgimento do cinema, os Panoramas já eram dispositivos visuais de imersão sensória, usados para a simulação da realidade desde finais do século XVIII, foram a primeira forma de instalação imagética, e possuíam o mesmo intuito das de hoje em dia, a imersão do espectador. Segundo André Parente, Panorama designa um dispositivo de espacialização da imagem planejado para tornar possível a imersão do sujeito em um espaço simulado, e por simulação entende-se: “fazer parecer real o que é apenas uma representação”(PARENTE, 2013, p.6). Parente afirma que a finalidade do Panorama era “produzir uma imersão total dos espectadores na imagem”. Outro ponto interessante sobre os Panoramas levantado por Parente é sobre e especificidade deste dispositivo quanto à implantação da imagem no lugar da realidade, ou, em outras palavras, quanto à instauração da “impressão de realidade”, como falara Baudry (Op.Cit) anteriormente à respeito do dispositivo cinematográfico. |
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Bibliografia | BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D'água, 1991.
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