ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A Ignorância do Cinema - pela invenção de um método cinematográfico |
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Autor | Isaac Pipano Alcantarilla |
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Resumo Expandido | A hipótese central deste resumo, fruto da pesquisa de doutorado homônima, consiste em perceber a vigência dos dispositivos como princípios metodológicos na produção de imagens no contexto da educação formal e não-formal. Como conjuntos simples de regras, por vezes lúdicas, os dispositivos utilizados acionam a brincadeira de olhar o mundo pelo espelho dos outros, permitindo a instauração de condições em que a alteridade se lança como experiência possível. O dispositivo, no entanto, não orienta como as imagens devem ser, ou melhor, não se antecede à produção dessas imagens; faz com que cada ação, cada gesto, cada escolha do que a câmera deve mostrar ou ocultar, cada som agregado à imagem, entre em conexão com as regras postas.
Como prática pedagógica, a impossibilidade do erro, a abertura ao improviso, à autonomia, ao olhar individual, confiam ao dispositivo uma possibilidade singular de ser um método que a um só tempo produz um recorte no que deve ser dito e visto, e no mesmo instante se apaga diante da presença do mundo e da invenção mesma das imagens. Regra e contra-regra, o dispositivo é reconhecidamente um dos mais importantes conceitos no cinema contemporâneo brasileiro, responsável por organizar uma série de filmes que em comum mantêm um desejo por permitir que o acaso interfira na obra como componente criador. Ao adotar o dispositivo como princípio, o realizador, submetido ao mundo indomável, se vê em meio a um conjunto arbitrário de indicações e princípios disparadores que organizam um centro irradiador - "o certo é que os dispositivos são como máquinas de Raymond Roussel, máquinas de fazer ver e de fazer falar" (DELEUZE, 2005). Máquinas de fazer ver e de fazer falar cuja luz que as faz visível não é exterior ou pré-existente ao próprio dispositivo, imanente aos objetos, discursos, corpos e subjetividades que faz ver. Em síntese, o dispositivo é um sistema sem contornos definidos, cadeias de relações, acoplamentos simultâneos, que se atualizam e promovem fissuras por meio de linhas: "não são nem sujeitos nem objetos, mas regimes que é necessário definir em função do visível e do enunciável, com suas derivações, suas transformações, sua mutações. E em cada dispositivo as linhas atravessam limiares em função dos quais são estéticas, científicas, políticas, etc." (DELEUZE, 2005, p. 155-161). Ao elencar o dispositivo como um centro metodológico - centro que se faz presente para desaparecer, em seguida - atribuímos ao processo naturalmente um enorme valor. Não se trata, então, de valorar as imagens por critérios pré-estabelecidos, e sim perceber a força que as constitui através das associações entre si e dos mundos que toca. Pode, então, a câmera cinematográfica lançar os corpos empoderados a um devir-imagem, cunhando assim uma experiência onde vida e criação estejam imantadas, como cerne da própria relação ensino-aprendizado? Se a arte se experimenta, não se ensina, exigindo dos sujeitos engajados uma adesão tal ao movimento, deriva que restitui ao tempo sua duração, é possível encontrar no dispositivo essa forma de atualizar as imagens? O que o cinema, na plenitude de sua ignorância, pode nos dar a ver e sentir? |
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Bibliografia | BARROS, Manoel. Manoel de Barros - poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
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