ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Praia do Futuro: um antimelodrama? |
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Autor | José Gatti |
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Resumo Expandido | Os protagonistas de Praia do Futuro (Karim Aïnouz, 2009) são associados a velocidade e mobilidade: Konrad, motociclista alemão, viaja para o Brasil com seu melhor amigo, que morre afogado no mar; Donato é o salva-vidas que fracassa ao tanter salvá-lo, e eventualmente se apaixona por Konrad; Ayrton é o irmão caçula de Donato, que vai à Aemanha dez anos depois, a procura de seu irmão desgarrado.
O filme, no entanto, dificilmente pode ser visto como um conto de amor e reencontro familiar. Movidos por sexo, amor e parceria, os personagens do filme trilham uma rota transnacional de autodescoberta que pouco tem a ver com os costumeiros melodramas que retratam imigrantes e suas lutas, como por exemplo o recente Jean Charles Henrique Goldman, 2009). Apesar de Karim Aïnouz ter declarado que seu filme é um "melodrama de macho", Praia do Futuro desmonta o melodrama, seus formatos e ingredientes. Praia do Futuro é pontuado por uma veemente economia de diálogos e por lacunas que previnem fechamentos e os sentimentos que afloram na narrativa são resolvidos com socos, chutes e abraços intensos. Estamos longe, portanto, do "modelo de sofrimento" que geralmente se aplica ao melodrama tradicional, gênero com profundas raízes na cultura audiovisual brasileira. Além disso, o filme teve uma trajetória de exibição peculiar no Brasil, com episódios de homofobia que de certa forma nos fornecem novas perspectivas sobre a espectatorialidade no país. Este trabalho levantará algumas hipóteses para melhor compreendê-la; entre elas, a da presença de Wagner Moura como protagonista, ator que ainda traz, em sua bagagem, a ampla repercussão de seu sucesso como Capitão Nascimento em Tropa de elite (José Padilha, 2007). Tanto o roteiro quanto a fotografia de Praia do Futuro evocam histórias em quadrinhos, o que é plenamente reconhecido pelos próprios personagens. Ayrton tem medo do mar, gosta de velocidade, se autodenomina Speed Racer e idolatra seu irmão como Aquaman, enquanto Konrad é claramente identificado como o Motoqueiro Fantasma, o personagem fogoso que percorre paisagens distintas. Ao som de Heroes, cantado por David Bowie, os personagens fluem por dunas, autobahns, nacionalidades e, por que não, telas e páginas de histórias em quadrinhos. |
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Bibliografia | Brooks, Peter. The Melodramatic Imagination. New Haven: Yale University Press, 1976.
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