ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A LÓGICA DAS IMAGENS DOCUMENTAIS DE WIM WENDERS COMO ATOS TEÓRICOS |
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Autor | Cristiane do Rocio Wosniak |
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Resumo Expandido | Neste trabalho parto do princípio de que o cinema pode ser considerado um ato de teoria e nesta aproximação dialógica, tanto o cineasta e suas fontes primárias de reflexões estéticas e teóricas, quanto seu filme, tornam-se veículos de um pensar-fazer cinema autoral.
Jacques Aumont (2008) faz-se a pergunta: “pode um filme ser um ato de teoria?” Se, hipoteticamente, os cineastas formulam e articulam constantemente seus processos criativos entre as camadas de seus pressupostos teóricos verbais e estes, por sua vez, impregnam o filme com o estilo/personalidade do diretor/criador, a resposta à questão formulada por Aumont seria afirmativa. Desde meados dos anos 1950, como afirma Robert Stam (2003) em seu artigo O culto ao autor, os Cahiers du Cinéma tornaram-se decisivos para a propagação de uma teoria do ‘autorismo’, sendo que seus críticos viam na figura do diretor aquele “responsável, em última instância, pela estética e pela mise-en-scène de um filme” (STAM, 2003, p. 104). Se, a partir de Aumont (2004) e alguns artigos de Stam (2003), acredita-se que as imagens cinematográficas tornam-se um veículo potente de pensamento autoral, então é possível afirmar que o estudo das obras de Wenders autorizam a verificação de seu pensar-fazer cinema a partir do recorte específico de seus documentários de homenagem. Ao refletir sobre algumas questões relacionadas à forma wendersiana de filmar, disponho-me a evidenciar o seu processo criativo à luz de duas obras documentais que homenageiam cineastas por ele reverenciados: Nicholas Ray (1911-1979), para o qual Wenders cria Nick’s Film – lightning over water (1980) e Yasugiro Ozu (1903-1963), para o qual cria Tokyo-Ga (1985). A partir da análise destes documentários pretendo traçar alguns conceitos recorrentes e que encontram eco estilístico em sua filmografia. Ressalto que a hipótese defendida por Aumont em sua obra A Teoria dos Cineastas (2004), entende que “o cineasta é um homem que não pode evitar a consciência de sua arte, a reflexão sobre seu ofício e suas finalidades, e, em suma, o pensamento” (AUMONT, 2004, p. 7). O referido teórico aponta que existem diferentes maneiras de fazer e tratar de ‘teorias’, mas o interesse nesta abordagem específica traz para a cena um artista/cineasta/realizador que faz de seu cinema/arte uma teoria sobre cinema/arte. Nos dois documentários em questão a memória, o registro e o esquecimento são o motes centrais. Memória versus esquecimento. Realidade versus ficção. Documentário versus recriação subjetiva da realidade? Em A Lógica das Imagens (1990) Wenders pondera: “todos os filmes começam com memórias, todos os filmes são também uma soma de muitas memórias. Por outro lado, muitas memórias nascem através dos filmes. (WENDERS, 1990, p. 57). A partir de excertos do corpus selecionado para esse estudo, pretendo analisar recorrências estéticas que alicerçam o pensamento wendersiano aplicado ao documentário de homenagem cujas bordas fronteiriças entre realidade e ficção são atenuadas, desnudando propositalmente, o procedimento de fragmentação e colagem, ao priorizar a montagem de evidência em detrimento da continuidade. Ao reunir documentos, registros de vídeo, depoimentos/entrevistas e outros meios para a construção de sua particular voz documental/ficcional, o cineasta/autor utiliza-as para (re)construir e atualizar sua perspectiva sobre as personagens biografadas e o universo cinematográfico em que transitam e transitaram – presente atual e memória virtual – fabricando sua própria resposta poética sobre esse universo que não mais existe. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas-SP: Papirus, 2004.
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