ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Magnífica 70, a censura e o cinema da Boca do Lixo |
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Autor | Marina Soler Jorge |
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Resumo Expandido | Com consultoria de Alfredo Sternheim, cineasta com uma longa carreira no cinema erótico brasileiro, Magnífica 70 procura representar de maneira bastante fiel o sistema de produção que vigorava na Rua do Triunfo, apresentando, por vezes de maneira didática, as práticas que lá regiam a fatura das obras. Da mesma forma, a série se esforça para colocar em cena o que sabemos sobre o funcionamento da censura na vigência da Ditadura Militar. O espectador encontrará na série um rol de procedimentos, do lado da produção e do lado da censura, bastante representativo das práticas e mecanismos do período. Muitas dessas práticas e mecanismos estão descritos em dois livros fundamentais para a compreensão dos temas em questão: do lado da censura o livro de Inimá Simões, Roteiro da intolerância – a censura cinematográfica no Brasil; da parte da Rua do Triunfo, o livro de Nuno César Pereira de Abreu, Boca do lixo: cinema e classes populares. Estes dois universos, a princípio separados, se imbricarão quando, em Magnífica 70, um censor decide cruzar as barreiras que os separam e se tornar cineasta, sem no entanto efetuar a metamorfose completa, ou seja, mantendo uma vida dupla não apenas por medo do sogro general mas também porque, enquanto censor, ele tem muita utilidade para a Boca do Lixo.
Tendo como showrunner o cineasta Cláudio Torres, filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres, e dirigida por ele mesmo juntamente com Carolina Jabor, Magnífica 70 estreou em 24 de maio de 2015 na HBO, sendo exibida em 13 episódios no domingo a noite em horário nobre, 21h, antes da popular série neo-medievalesca Game of Thrones. A produção de Magnífica 70 se insere no contexto de consolidação global da ficção seriada como produto artístico, bem feito, com direção de arte e figurinos impecáveis, cujo tema adulto permite que sejam mostrados belos corpos femininos de maneira mais ou menos inserida na estória e algumas cenas de sexo. É interessante analisar de que modo, passadas mais de quatro décadas do Golpe Militar, os temas da censura e da pornochanchada ganham uma embalagem brilhante, glamourosa e bem produzida, misturada a uma trama policial-folhetinesca. Estrelada por Simone Spoladore, Marcos Winter, Adriano Garib, Maria Luisa Mendonça (esposa de Cláudio Torres), Stepan Nercessian, Joanna Fomm e Paulo César Pereio, a série narra o envolvimento do censor Vicente, interpretado por Marcos Winter, genro de um General, com a Boca do Lixo, onde ele encontra sua vocação como diretor de cinema. Sua motivação inicial, no entanto, é erótica: Vicente apaixona-se pela atriz do filme que acabou de censurar, que por sua vez se parece muito com sua falecida cunhada de 17 anos, por quem ele nutriu um intenso desejo sexual. A ironia na escalação do elenco se dá na escolha de Paulo César Pereio, ator conhecido pelo deboche, pela crítica social, pelo ateísmo e comunismo declarados, para interpretar o General Souto, personagem autoritário, misógino e pervertido. Na série, a influência rodrigueana retira o peso da discussão política e a redefine no âmbito da moral, transformando em grande medida as opções políticas levadas a cabo por aqueles que detinham o poder no regime militar em falhas de caráter e perversões. A figura do General Souto, qualificado como um importante militar, de grande influência política, é emblemática nesse sentido, tendo em vista sua caracterização como um pervertido de primeira ordem, capaz de estuprar sua enteada ainda criança, bem como torturar seu genro e a própria filha com choques elétricos. Nesse sentido, a imagem do autoritarismo e da violência política afasta-se de uma abordagem audiovisual contemporânea que tenta conferir normalidade a ocupantes de funções de poder. Em Magnífica 70 a violência praticada pelas duas figuras de autoridade, o General Souto e o produtor George Larsen, está contida em cada gesto ou fala dos personagens, bem como em sua caracterização física asquerosa. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César Pereira de. Boca do lixo: cinema e classes populares. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
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