ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A propósito de uma arqueologia do ensaio no cinema brasileiro |
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Autor | Francisco Elinaldo Teixeira |
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Resumo Expandido | Pensar o ensaio no cinema brasileiro é preocupação bem recente. Em nossa historiografia as articulações sempre se fizeram entre os domínios da ficção e do documentário, com escassas considerações sobre o experimental, inclusive, até à atualidade. Dado seu caráter atópico, o fato de não se reduzir-confundir com nenhum dos outros três domínios do cinema, embora deles se e aproprie e se alimente, o ensaio permaneceu numa espécie de flutuação que mal conseguia nomeá-lo enquanto tal, pelo menos até meados dos anos 2000, com raras exceções.
No contexto internacional, foi apenas a partir de inícios dos anos de 1990 que tal domínio começou a ganhar relevo, com o surgimento de mostras exclusivas e antologias teóricas a seu respeito que proliferaram desde então. Não que o ensaio não tivesse registros-inscrições dentro da história do cinema, tinha sim, desde o período clássico, quando a relação cinema-pensamento começou a ganhar relevo teórico (com os formativistas, Artaud, Eisenstein, Vigo, Vertov, Arnheim etc) ), assim como no período moderno, quando filmes de determinados autores foram reclamados como ensaísticos ( proto-ensaísticos ou com tal inflexão, Marker, Godard etc). Mas foi só numa configuração cultural pós-moderna (de "pós-tudo") que de fato veio demandar investimentos teóricos mais substanciais, inclusive, pela proliferação cada vez maior de filme-ensaios. No Brasil, dada essa flutuação do conceito, seus desafios tradutórios da filosofia e literatura para o cinema, seu caráter fugidio, não foi por acaso que uma primeira tentativa de nomear um filme de ensaístico, o caso de Cinema Falado/Caetano Veloso (1986), resvalou em polêmica-rejeição já durante sua primeira exibição. No entanto, inflexões ensaísticas no cinema brasileiro inscrevem-se pelo menos desde os anos de 1970, considerada década de forte experimentalismo, com o surgimento de noções afins como as de "quase-cinema", "marginal", "de invenção", "cinepoética", "cinema de artista", "experimentalismo superoitista", "videoarte". Daí em diante, pode-se falar de um balizamento do conceito de ensaio no cinema, sobretudo, segundo um patamar a que se chegou na atualidade, que veio ganhar adensamento e ricas possibilidades. Os anos de 1980 ainda foram de revisões fortemente catalisadas pelas novas estilísticas do documentário em ascensão. Nas décadas seguintes, a introdução-irrupção de categorias como as de "performativo", "primeira pessoa", "autobiografia", "dispositivo", "arquivo", como tentativas de inscrição de algo novo que ocorria no domínio do documentário, vinha revelar que os filmes aí considerados já não pertenciam mais, exclusivamente, a esse domínio, mas que o desafiavam e se abriam para uma outra consistência que era a do ensaio fílmico. Em todas essas peças audiovisuais uma forte inflexão subjetiva se dava a ver, ou seja, uma subjetividade do ensaísta, seu olhar subjetivo, uma relação de seu pensamento em movimento e processo consigo e com o mundo, um esforço de sair de si, de criar uma interface com as questões-problemas de seu tempo e espaço, tudo isso foi se tornando matéria prima da composição fílmica-ensaística. Foi, portanto, de meados dos anos 2000 para cá que uma consciência maior do ensaio começou a ganhar e demandar um estatuto teórico que antes não possuía, inscrevendo-se nos debates com seus desafios, fugas, instabilidades e incertezas tal como se pode observar na atualidade. |
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Bibliografia | Teixeira, Francisco Elinaldo. O terceiro olho: ensaios de cinema e vídeo (Mário Peixoto, Glauber Rocha, Júlio Bressane). São Paulo: Perspectiva, 2003.
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