ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Dona Flor e seus dois maridos e a recepção histórica da crítica |
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Autor | Regina Lucia Gomes Souza e Silva |
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Resumo Expandido | A revista Filme Cultura (1966-1988) nos deixou um grande legado histórico. Trata-se de um conjunto de textos, sobretudo sobre cinema brasileiro, que dialogava abertamente com a sua época, representando um rico acervo de atos de leitura e recepção cinematográficos. Os discursos da crítica ali encontrados são excelentes registros de práticas interpretativas que dizem muito sobre um certo tipo de recepção a que filmes brasileiros das décadas 70 a 80 apresentaram.
A seção Dossiês críticos, particularmente, reunia um conjunto de críticas nacionais e internacionais sobre um mesmo filme lançado, configurando uma espécie de catálogo de recepção crítica da obra. Este rico material nos serviu aqui como fonte primária para o exame de condicionantes históricos que guiaram a acolhida (boa ou má) do filme Dona Flor e seus dois maridos dirigido pelo jovem Bruno Barreto. Na edição de maio de 1979, a revista Filme Cultura trazia textos (ao todo foram 17 textos apresentados no dossiê, sendo 15 críticas e outros 2 comentários, respectivamente de Jorge Amado e Leopoldo Serran, roteirista do filme), traduzidos por Sérvulo Siqueira, do Le Figaro, Corriere della Sera, The New York Times e ainda do Correio do povo, A Tarde, Jornal do Brasil, Última Hora e outros que apontavam para as marcas de recepção da crítica atribuídas ao filme de Barreto, considerado uma das maiores bilheterias do cinema nacional desde sua estreia em 1976. Época de deslocamentos para o cinema brasileiro, a década de 70 carregava um conflito entre a continuidade da estética de experimentação dos anos 1960 e a opção por um cinema pró-comunicação com o público e com o mercado (RAMOS, 1987; GOMES, 2015). As críticas à Dona Flor e seus dois maridos confirmam esta tensão ao avaliá-lo como uma produção, por um lado, “ligeira”, “inconsequente”, “uma pornochanchada bem feita”, “um sucesso planejado” e por outro, “profissional”, “habilmente tramado”, “ótimo elenco” e aquele que “ensina o cinema brasileiro a falar”. Nossa proposta de trabalho será a de analisar esses textos críticos à luz de seus determinantes históricos e buscar entender a lógica discursiva presente nas críticas como resíduos de marcas de recepção ao filme. Mais que uma análise imanente, procuramos compreender as relações forjadas entre os textos publicados e seu tecido social e histórico. Acerca da metodologia, convocaremos os Estudos históricos de recepção nos media de Janet Staiger (2000; 2005) e A estética da Recepção de Hans Robert Jauss (1979; 1994). A primeira valoriza os documentos cinematográficos escritos como fontes de estratégias interpretativas e de respostas do público e o segundo pensa o crítico como leitor atento, parte integrante do processo de atualização de textos artísticos. Resta-nos dizer que o modo de ler (tanto os filmes como as críticas) não é fixo, varia com a errância do tempo e desta forma, assumimos aqui um modo de ler esses textos do passado a partir de um horizonte novo de expectativas. |
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Bibliografia | DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS. In: Filme Cultura. Rio de Janeiro: Embrafilme, n. 33, maio de 1979, p. 100-111.
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