ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Depuração e exageração: Escritura sonora nos filmes de sabre japoneses |
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Autor | Demian Albuquerque Garcia |
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Resumo Expandido | Chanbara designa familiarmente o filme de sabre japonês, chamado ken-geki, que tem sua origem no teatro tradicional japonês, precisamente o kabuki. O nome vem da contração da onomatopeia japonesa Chan-chan-bara-bara, utilizada pra evocar o som do sabre cortando a carne. Mas é realmente este som que ouvimos nesses filmes? Esta comunicação propõe estudar como se apresentam os sons dos sabres nesses filmes e a maneira como eles são produzidos, assim como examinar o processo de manipulação do som, levando em conta suas mudanças e transformações segundo o grau de realismo e a época à qual essas obras foram filmadas.
Primeiramente estudaremos o som dos filmes de sabre a partir dos anos 1950, onde, livre da tutela dos Estados Unidos, os estúdios japoneses voltam a produzir o chanbara inaugurando uma “Era do ouro” do gênero - entre 1954 e 1974. [RICHIE, 1971; TESSIER, 2008] Analisaremos alguns filmes de sabre de Akira Kurosawa, Hideo Gosha e Kenji Misumi. Esses filmes manifestavam uma ideia de realismo sonoro através da utilização de sons e foleys mais moderados, assim como uma escritura sonora mais depurada. Durante esse período os imperativos técnicos – principalmente o uso do som ótico com seu caráter monofônico – não permitiam a sobreposição de uma grande quantidade de sons; o cinema, então, teve que desenvolver uma hierarquia de sons onde cada cena deveria conter um só elemento sonoro principal, o que privilegiava geralmente a voz ou a música [CHION, 2003]. Assim, o foley dos sabres se revezava com os gritos de samurais ou com a música. Esses cineastas desenvolveram uma ideia de escrita sonora ligada à caligrafia japonesa – baseada na precisão, na depuração, no simbolismo, e numa estética de “fazer escolhas”: neste caso, o uso de sons pontuais e a supressão de alguns sons para colocar outros em evidencia, chegando mesmo a remover os sons das espadas. Alguns trabalhavam com o efeito desses sons na construção da violência, modificando e dramatizando cada choque das katanas na construção das cenas. A partir dos anos 1990, o dolby e a possibilidade de espacialização sonora abrem o caminho para a composição de um desenho sonoro mais trabalhado.[CHION, 2002] O cinema “grande público” de hoje, pode ser definido como um cinema de profusão sonora: o efeito do real é frequentemente construído com uma exageração sonora. Nesse contexto, analisaremos alguns chanbaras dos anos 2000, nos quais a abundância sonora é significativa, especialmente nos remakes de Takashi Miike e Takeshi Kitano. Partindo dessas análises vamos traçar as diferenças entre esses dois períodos, desde a economia e depuração do pós guerra até a exageração dos anos 2000. A partir desta investigação tentaremos colocar em evidência como o som, mais precisamente o foley - onde os ruídos reais são substituídos por um “simulacro” [DESHAYS, 2010] -, pode modificar a percepção dos espectadores, assim como fazer parte da criação dos autores e responder à exigências comerciais ligadas à expectativa do público, exploração do sistema surround, etc. |
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Bibliografia | DESHAYS Daniel, Entendre le cinéma, Paris, Klincksieck, 2010
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