ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Dos cacos às migalhas: alternativas para a narrativa cinematográfica |
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Autor | Luiz Otávio Vieira Pereira |
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Coautor | Carlos Pernisa Júnior |
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Resumo Expandido | Há mais de um século a narrativa cinematográfica atribui significados à experiência humana por meio de suportes específicos como o movimento de câmera, a composição de campo, a edição, a manipulação sonora, dentre outros recursos. No entanto, apesar de ser possível pensar a narrativa como uma linguagem própria dentro do cinema, é preciso também considerar sua construção de maneira flexível, tendo em vista que o fazer cinematográfico ainda é um campo em disputa.
Essa questão da legitimidade cinematográfica fica clara ao se ponderar o diálogo contemporâneo entre cinema e vídeo, e a inquietação que a democratização tecnológica promove ao alimentar uma transferência de poder: cada vez mais, realizadores, sem qualquer tipo de experiência, deixam de lado o papel de meros consumidores para atuarem ativamente como atores no processo de produção de conteúdo. E, se por um lado, esse processo contribui para a fuga de uma narrativa tradicional hegemônica, como tão bem sedimentado pelo velho sistema de Hollywood, por outro, a fragmentação da informação, bem como a valorização de uma enunciação tão singular, provocam um ruído em uma competência até então indissociável do narrar: a capacidade de trocar experiências e de enxergar na história aspectos da imagem que projetamos para nós mesmos. Surgido no início do século XXI, entre as conversas de um grupo de amigos e as exibições de um festival de cinema independente, o movimento mumblecore nos EUA é sintomático desta realidade. Caracterizado, desde sua gênese, pelo domínio maquínico que democratiza e desonera a produção cinematográfica, o termo tem origem na expressão inglesa mumbling characters (gente que resmunga), em uma referência a precariedade da captação do áudio nas produções do cinema independente. No entanto, diante de um montante de filmes narrativamente tão desiguais, é, antes de qualquer coisa, um esforço arbitrário da imprensa norte-americana em classificar um movimento que tem se sustentado muito mais a partir da construção da imagem sobre bases tecnológicas do que propriamente em função de experimentações temáticas ou de gênero. Além do baixo orçamento e do predomínio do registro da imagem em mídia digital, o movimento é marcado também pelo improviso na construção das cenas, pela dissolução do conceito de autoria, por uma montagem fragmentada em mosaicos que dificilmente se totalizam, pelo uso de atores não-profissionais e por uma urgência temática que, na maioria das vezes, versa sobre um mundo em decomposição em que, de um lado a incomunicabilidade esfacela os relacionamentos pessoais, e de outro, as questões políticas e sociais passam a ser subjugadas pelos prazeres estéticos inaugurados pelas novas possibilidades tecnológicas. Nesse contexto, entendendo que o reconhecimento dessas pequenas histórias, outrora invisíveis, demandaria uma reconfiguração da narrativa cinematográfica, este estudo tem por objetivo apontar caminhos para o problema, seja por meio dos prazeres interativos, que dão liberdade à significação dos sujeitos, ou através da construção narrativa em múltiplos suportes midiáticos, permitindo assim a concepção de universos mais abrangentes e inteligíveis. |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. Vídeo e cinema: rupturas, reações e hibridismo. In: Arlindo Machado (org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2003.
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