ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Do périplo e seus encontros |
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Autor | Annádia Leite Brito |
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Resumo Expandido | A exposição “A conversa infinita”, do artista e professor Alexandre Veras, estabeleceu o encontro como elemento indispensável para sua concretização, desde a fase de montagem até o contato com o público. Convidado pelo Porto Iracema das Artes (Fortaleza-CE) a desenvolver um projeto que engajasse cerca de quarenta jovens artistas interessados, Veras propôs a feitura de sete obras em uma exposição que ocupou os dois pisos do Museu de Arte Contemporânea do Ceará.
Todas as obras apresentadas, que estiveram em cartaz de setembro a outubro de 2015, são instalações. Cinco delas utilizam imagens projetadas e som, enquanto outras duas veiculam som espacializado em determinados objetos. Objetiva-se delinear como as obras em suas especificidades compuseram o todo da exposição como uma experiência de encontro, seja através da priorização da escala humana nos materiais e nas projeções dos corpos; no uso da voz em diálogo veiculada em objetos que revelam um vínculo de intimidade – os travesseiros; ou em sua relação com as pessoas em um fluxo constante de reinvenção mútua. O tema do cansaço, na intersecção com Blanchot (2001), é tomado como experiência mobilizadora de uma potência propícia ao surgimento do novo, das intensidades além da linguagem, aproximando-se do conceito de esgotado em Deleuze (2010). O espectador é livre para fazer seu percurso, porém iniciar com a experiência de um cansaço transmutador é permitir-se estar em outro estado para seguir em contato com as obras da exposição. Obras essas que, em sua maioria, trazem a escala humana aplicada às figuras projetadas para colocar em questão a presença, o estar diante dos corpos em movimento, entre gestos e ruídos distribuídos no espaço para sublinhar com mais força a sensorialidade. Ademais, em “Jogo de varetas” – sala escura com grandes cilindros negros – aproxima-se da investigação de Didi-Huberman (1998) acerca dos trabalhos minimalistas, de uma presença que se dá pela ausência. Partindo da espacialização de “O regresso de Ulisses” – curta-metragem de videodança realizado por Veras em 2008 –, toma-se o conjunto analisado da exposição como um périplo no qual o público pode se lançar à maneira do Odisseu e habitar o campo do experimental, como conceituado por Oiticica (1972, p. 5-6) em “um ato cujo resultado é desconhecido” e aberto a possibilidades. Desde a primeira sala, o encontro entre público e exposição enseja a modificação e reconstrução de ambos, que se abrem em uma dimensão pré-individual, na qual o meio associado, formado a partir da presença dos dois, desencadeia uma constante diferenciação de si mesmos, resultando em algo que não se pode antecipar. Entre o espectador e o trabalho artístico se cria “um espaço-tempo que abriga relações dinâmicas entre obra e humano” (OLIVEIRA, 2012, p. 103), ininterruptamente formando e atualizando essas instâncias no ato de experienciar. Ambos estão em devir, em contínua modificação de si. |
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Bibliografia | BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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