ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A perambulação em Irreversível: subversão lírico-poética de Gaspar Noé |
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Autor | Josette maria alves de souza monzani |
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Coautor | Mario Sergio Righetti |
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Resumo Expandido | Essa comunicação visa refletir sobre as características estilísticas da perambulação no filme Irreversível do cineasta franco-argentino Gaspar Noé, de 2002, que se configuram através da montagem e dos movimentos de câmera (travellings, giros, rotações, close-ups) pontuando o gesto lírico-poético do cineasta e o estado emocional dos personagens, e desvelando a representação dos deslocamentos temporal e espacial na diegese. Dessa forma, buscar-se-á a reconfiguração pós-moderna desse traço estilístico cinematográfico, principalmente através das teorizações de Jean Douchet sobre o aspecto da deambulação na Nouvelle Vague e de Ismail Xavier sobre a perambulação. Em Irreversível, pode-se dizer que a perambulação pode ser “técnico estilistica” - quando a câmera sobrevoa e revela os espaços urbanos e seus habitantes; e perambulação “mental/das consciências” - quando reflete as experiências sensório-afetivas dos protagonistas.
Desde os primeiros minutos da narrativa de Irreversível, a partir dos travellings giratórios, aleatórios e nervosos, as perambulações figuram tanto a perseguição dos dois protagonistas atrás do estuprador/antagonista como também revelam o estado alterado de consciência daqueles. Dessa forma, a fluidez da câmera funciona como termômetro do estado psicológico dos personagens e a intensa movimentação dos quadros permite que Noé crie belas transições no tempo e no espaço: no tempo, em função do revés cronológico da narrativa, muitas vezes realizado através de cortes ocultos pela constante movimentação; e, no espaço, graças às fusões que se tornam imperceptíveis também através do movimento intenso. A obra Irreversível será abordada pelo aspecto sensorial da narrativa, com sua estética experimental intensificada pela câmera errante que vagueia como ‘testemunha’ e narrador não usual e resulta em um discurso nauseante e labiríntico, desestabilizador de certezas no espectador e instigador de sua reflexão posterior. Reflexão sobre a vida nas metrópoles na contemporaneidade e as regras de convivência social nelas em vigor, em uma visão incômoda por parte do diretor - posto que busca tirar o público de sua zona de conforto existencial. |
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Bibliografia | CHARNEY, L. e SCHWARTZ, V. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: CosacNaify, 2001.
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