ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Divergências de escutas do cinema com estudantes de educação básica |
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Autor | Glauber Resende Domingues |
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Resumo Expandido | A escuta dos sons do cinema com estudantes de educação básica é algo que vem sendo recentemente estudada (RESENDE, 2013). O que se percebe é que eles tendem a relacionar-se fortemente com a memória sonora e, quando esta não se faz presente pelo fato de os alunos não reconhecerem tais sons, eles lançam mão da imaginação para dizer o que pode ser tal som, mas sempre estabelecendo uma estreita relação com sons que eles já conhecem.
Porém penso que, por conta da Lei 13.006/14, outras formas de se conceber o acesso e a acessibilidade ao cinema (FRESQUET & MIGLIORIN, 2015) precisam ser ensaiadas e postas em prática, inclusive no que diz respeito aos estudantes relacionarem-se com os sons. No bojo deste pensamento, tenho perguntado como que estudantes que não atendem a uma certa lógica de normalidade constroem suas escutas, como estudantes cegos e surdos, por exemplo. Desta forma, esta comunicação de pesquisa pretende apresentar algumas apostas de pesquisa as quais tenho pensado recentemente e tenho pensado e algumas pistas de como estas escutas tem se construído a partir da pesquisa empírica que vem sendo realizada em três escolas públicas. Algo que tenho notado em duas das três escolas na qual tenho desenvolvido a pesquisa é que estudantes cegos e surdos tendem a esgarçar os conceitos (DELEUZE & GUATTARI, 2010), interrogando-os com seus modos de ser e se relacionar com as materialidades que eles produzem, dentre eles o cinema, seu som e a escuta que eles fazem deste. Como estudantes cegos ou de baixa visão tem outra ideias do que seja a imagem e os estudantes surdos tem outras ideias do que seja o som, ambos profanam (AGAMBEN, 2007) o lugar tanto da imagem quanto do som irrompendo outras formas de se conceber a imagem, sendo que esta é atravessada ou ‘informada’ pelo som, ou por outro lado, a imagem pode ser enriquecida e o som tomar outra dimensão nas percepções dos estudantes. Assim, vê-se que nestas experiências com o som há o alargamento dos conceitos e dos afectos de perceptos (DELEUZE & GUATTARI, 2010) que os sons do cinema provocam. Eles começam a ser interrogados, manipulados, esticados daqui e dali quando entram na escola e os estudantes dão a eles outros contornos, que são mais largos que aqueles que a linguagem cinematográfica foi constituindo ao longo do tempo. Como proposta de criação, os alunos têm produzido o Minuto Lumière, que é “uma prática mágica, que permite fazer uma experiência inaugural do cinema ao restaurar sua primeira vez com um exercício relativamente simples” (FRESQUET, 2013, p. 67-68), que é filmar um minuto como faziam os irmãos Lumière. Neste caso, tenho chamado os minutos produzidos de Minuto Lumière Sonoro. O que percebo é que, ao produzirem, os estudantes cegos e surdos tendem a dar outro sentido de eleição, disposição e de ataque (BERGALA, 2008) aos elementos escolhidos do que os estudantes que ouvem e veem. Nas pesquisas que vimos empreendendo, suas preocupações estão mais em expressar somente do que propriamente em se atentarem ao modo com o qual farão isto. Neste ponto, o papel do professor é fundamental para atuar como o passador que fará junto com eles a travessia do ato de criação cinematográfica com vistas a possibilitar uma preocupação maior com os elementos do cinema. Na análise que tenho feito dos Minutos, tenho notado que os estudantes surdos e cegos, talvez por não terem a dimensão de tempo tão arraigada como os ouvintes e videntes, no sentido de contar cada segundo do minuto, tendem a suspender o tempo do tempo cronológico, criando um tempo para além ou aquém do tempo que é dado pelo relógio. Sua intenção é dada pelo tempo do acontecimento. O que importa é o que acontece e não o quanto acontece na criação. Com isto, tenho percebido que, em vez de convergências, há divergências de escutas entre estudantes. Divergências estas que são positivas, pois povoam a escola de outros modos de os estudantes relacionarem-se com a sétima arte. |
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Bibliografia | AGAMBEM, Giorgio. Profanações. trad. Selvino José Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007.
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