ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A mise-en-scène como construção de metáforas em Fresa y Chocolate |
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Autor | Marina de Morais Faria Novais |
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Resumo Expandido | Tomás Gutiérrez Alea (1984) fala, em seus ensaios reunidos em “Dialética do espectador” sobre o poder ideológico do cinema. Para ele, a estética do cinema tem a função de seduzir o espectador, para que então seja possível trazê-lo para a realidade vivida no filme e, a partir dela, transformar a realidade dos espectadores, educá-los, despertar sua atenção. Por mais que essa afirmação, com bases claras em Eisenstein, seja contestável, é possível ter uma ideia de como a estética parece ter uma posição unicamente funcional para o diretor.
Assim, para o diretor, a estética seria uma espécie de “encantamento” para alcançar a consciência do espectador. Avellar (1995) cita um dos ensaios do cineasta cubano que exemplifica muito bem esse pensamento. Nele, o diretor usa a metáfora do pintor chinês para se referir à experiência do cinema. De acordo com essa metáfora, após terminar de pintar uma paisagem muito bonita, o pintor chinês entrou no quadro e se perdeu pela paisagem. Assim, Alea diz que o cinema é, primeiramente, um espetáculo, uma apreciação estética, como uma forma de prazer. É exatamente da ideia descrita acima que esta pesquisa pretende estabelecer seu ponto de partida: desvendar de que forma a composição da mise-en-scène cria metáforas políticas, culturais e religiosas no filme Fresa y Chocolate (1994), no primeiro filme codirigido por Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío. O filme conta a história de David, um jovem do Partido Comunista que, apesar de apaixonado por literatura e artes, cursa Política, por achar que seria mais útil ao grupo. Em meio a sua conflitante vida pessoal e ativista, ele conhece Diego, um professor homossexual, que altera toda a vida do jovem, fazendo com que grande parte dos seus preconceitos e julgamentos advindos do partido sejam quebrados. David e Diego constroem uma forte amizade e isso auxilia o jovem ativista na busca pela felicidade e autoconhecimento. Para a análise, foram levadas em consideração 19 sequências específicas do filme, onde foi possível identificar a construção de metáforas audiovisuais. Conforme definido por Vanoye e Goliot-Lété (1994), a construção de metáforas no cinema “baseia-se na analogia do sentido que existe entre o termo utilizado e o termo ausente que o substituiu. (...) É a associação, mais ou menos, estreita, de imagens que rompem o estrito continuum narrativo que cria uma configuração metafórica” (p. 64). Sobre a construção da mise-en-scène foi utilizado como referência Bordwell e Thompson (2013), que definem como seus componente: cenário, iluminação, figurino e comportamento das personagens. Para esta pesquisa, além do cenário foram considerados também objetos de cena, utilizados pelos personagens. E não foi analisada a iluminação como parte da construção de metáforas. É importante ressaltar que grande parte dos cenários utilizados são locais reais em Havana, o que ressalta ainda mais o poder das metáforas, dentro do contexto da sociedade cubana. Por fim, como discussão de resultados, foi possível notar que a mise-en-scène do filme cria metáforas que fazem críticas ao comunismo e sua intolerância homossexual e religiosa, além de críticas sobre a situação política e social de Cuba. As metáforas audiovisuais também indicaram o envolvimento entre os personagens, que criaram novos tipos de laços e como isso afetou a relação entre o comunismo e suas intolerâncias. |
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Bibliografia | ALEA, Tomás Gutiérrez. Dialética do Espectador: seis ensaios do mais laureado cineasta cubano. São Paulo: Summus, 1984.
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