ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Uma mulher sob influência: a histeria feminina no cinema |
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Autor | Fernanda Sayuri Gutiyama |
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Resumo Expandido | É com grande frequência que nos deparamos com representações e personagens femininas acompanhadas de denominações relacionadas à histeria e a loucura, em todos os meios de comunicação incluindo o cinema. Essa associação está presente historicamente desde a antiguidade – a histeria é descrita como uma neurose complexa de instabilidade emocional que pode manifestar-se em sintomas físicos como paralisia, cegueira, surdez, perda de autocontrole e pânico extremo, associada diretamente ao útero até o século XIX -, e supostamente acreditava-se ser uma doença peculiar e particular das mulheres, por vezes fruto de seu imaginário desregrado e exagerado; a raiva, o medo, a desobediência eram socialmente indesejáveis em mulheres, que deveriam ser submissas, calmas e pacíficas.
A literatura do século XVII, descrita por Michel Foucault em sua obra A História da Loucura na Idade Clássica (1972), traz explicações de que a doença ataca muito mais as mulheres do que os homens porque elas têm uma constituição mais delicada, menos firme, por levar uma vida mais mole e acostumada as comodidades da vida e a não sofrer. Trazendo um panorama da loucura do período clássico, Foucault conclui que as diversas formas de se perceberem o louco e a loucura dependem das instituições sociais, do reconhecimento que estas empreendem sobre os indivíduos como sujeitos sociais. Ainda atualmente, o estigma da histeria perdura e se perpetua em nosso cotidiano. Laurie Schapira em 1988 nomeou como Complexo de Cassandra, o sofrimento das mulheres desmerecidas de serem ouvidas e percebidas como irracionais e histéricas simplesmente por serem mulheres, reconhecidas como sensíveis e emotivas, fracas e instáveis, enquanto o masculino representa a razão. É o que ocorre com diversas personagens femininas nos filmes, geralmente mainstream. Elas são rotuladas não só por parte dos outros personagens que compõem a trama, mas também por seus espectadores, relembrando-nos o ensaio de Laura Mulvey. Rótulo ao qual é atribuído ao lugar da mulher pelo sistema sexo-gênero que assimila a diferença sexual ao gênero, e é dessa forma que a história da histeria figura o conjunto de efeitos produzidos pela diferença sexual, com o qual muitas teorias feministas da segunda onda focaram seus estudos. Nos Estados Unidos, é através do cinema independente que discussões marginalizadas ganham destaque nas décadas de 60 e 70. As produções autorais de John Cassavetes são demarcados pela forte densidade emocional, organicidade e atuações viscerais com personagens profundos e ambíguos, aos quais os atores participam ativamente em sua construção desde sua elaboração como com atuações improvisadas; Cassavetes foge do engessamento da indústria cinematográfica trazendo questões de raça, gênero e das minorias sociais em seus filmes, para tratar dos sentimentos humanos mais profundos e da desintegração de relações sociais consagradas. É a partir dessa estética que emerge a personagem Mabel Longhetti, personagem feminina principal de Uma mulher sob influência, uma mulher esposa e mãe de três filhos que se encontra em crise profunda, julgada como louca e ‘desajustada’ por todos que estão ao seu redor. Mabel deve se ‘ajustar’ ao quê? Para tratar dessa questão particularmente através do cinema, pretendemos analisar o filme Uma mulher sob influência (1974) de John Cassavetes através das leituras em Laura Mulvey, Teresa de Lauretis e Michel Foucault, verificando a relação da representação de gênero com a histeria e o contexto histórico do filme na conjuntura do cinema independente norte-americano, com foco na personagem Mabel, suas relações familiares e com outras instituições sociais, com o objetivo de discutir as singularidades dessa obra e do cinema como forma política para discutir as questões de gênero. |
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Bibliografia | - BUTLER, Judith P. Gender trouble: Feminism and the subversion of identity. Nova York: Routledge, 1990.
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