ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Terror da Vermelha (1972): Corpo e subversão poética em Torquato Neto. |
|
Autor | Geraldo Blay Roizman |
|
Resumo Expandido | Nosso estudo de fundo busca identificar o papel do corpo e dos gestos singulares apresentados no superoitismo dos chamados filmes de artistas e nas relações que estabeleceram enquanto experiência cinematográfica dentro do contexto histórico estabelecido pelo regime militar, levando em conta o contexto artístico vinculado à contracultura na época em que foram realizados. Em Terror da Vermelha (1972), de Torquato Neto, estudaremos a hipótese de uma imagética tropicalista que opera contra-culturalmente, em errância, numa rota de dilaceramento. A ligação intrínseca entre o jovem poeta expoente do tropicalismo, letrista, ator de Nosferatu no Brasil, de Ivan Cardoso, cineasta e o jornalista, que escreveu crônicas no Jornal dos Sports, Correio da Manhã e Ultima Hora, nos revela entusiasmo diante da novidade de se poder filmar com a câmera portátil como um gesto possível e uma prática mais viva e do que o fazer cinema ou assisti-lo no circuito existente. Deste jornalismo engajado surge uma noção do artista Luiz Otávio Pimentel sobre a palavra-cenário, a partir de ideias concretistas, em que a palavra poderia também servir como uma prática transformadora do ambiente de filmar. Vemos isso em vários trechos de seu filme, tal como a bandeira emblemática com o grande número quatro com um ponto, que indicaria, como imaginamos, um devir poético processual de errância como uma necessidade libertária permanente, de não fixação. Dá o tom de errância do Super-8, como no trecho de sua música:
Há urubus no telhado/e a carne seca é servida/um escorpião encravado/na sua própria ferida/não escapa só escapo/pela porta da saída. A narrativa será permeada por um protagonista, figura esquálida, um anti-herói que se encontra a léguas do pistoleiro que a trilha do western de Sérgio Leone sugere. Como corpo “florescente”, de estranhos e compulsivos gestos, comportamento alheio à mimese mais filtrada pelas relações sociais, que age com os seus implacáveis assassinatos em série como um verdadeiro operador de sentido dessa poética da negatividade. Poética de dilaceramento que vai duelando, liquidando e desconstruindo tudo e todos ao longo do filme: afetos, como sujeitos do desejo, indo até a morte, seja da representação de si, do cinema ou da imolação da própria intenção poético-cinematográfica. A única exceção dessa poética vem quando nos deparamos com o inusitado desregramento do princípio de comunicação na dança de Herondina, sua sobrinha, momento agudo de epifania dentro da linguagem por vezes intransitiva do filme, que se esgarça no inacabado. |
|
Bibliografia | ADORNO, T. W. Teoria Estética. Lisboa: Edições70, 2008.
|