ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Rogério Sganzerla vídeo-ensaios. |
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Autor | Régis Orlando Rasia |
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Resumo Expandido | É curioso pensar em Rogério Sganzerla como um dos grandes avatares do ensaio no Brasil, grande parte das análises de seus filmes pendem quase naturalmente para o Bandido da luz vermelha (1968) e obras do período Belair dada à importância e o significado desta e outras obras do período na história do cinema brasileiro moderno. Como uma força tratora na carreira do diretor o “magnetismo” por tais filmes ofusca um sobrevoo maior de análises em outros filmes. Não é por acaso que grande parte da sua realização do final dos anos 1970 e que avançam na carreira do diretor são pouco conhecidos da crítica e da academia, raros também são os estudos que recortam os filmes pós marginais ou que aproximam suas obras do território ensaístico.
Weinrichter (2015, p. 46) cita que um ensaio pode vir assinado por um cineasta experimental ou estar muito mais próximo de “um cine/vídeo experimental, as verdadeiras fontes do ensaio”. Como nos fala Bellour o vídeo foi um grande operador de passagens das imagens da fotografia, cinema, televisão, pintura videoclipe entre outros. Neste universo das passagens é que nos deparamos com os filmes do diretor Anônimo e incomum (1990), que abre com a inscrição: “vídeo de Rogério Sganzerla”. Já América, o grande acerto de Vespúcio (1992) podemos ver a performance do ator Otávio Terceiro filmado com uma handycam (Hi8) e que servirá de laboratório ou um vídeo/roteiro para O signo do caos (2003) cuja repetição se torna a montagem do filme. Além destes outras vídeo-experiências: Deuses no Juruá (1997) e o filme que absorve o personagem como parte do conteúdo e da forma dodecafônica em Informação: H. J. Koellreutter (2003). Um conceito nos chama a atenção, quando Deleuze chama de novas imagens àquelas em que uma janela ou ainda um quadro não remete a postura humana, “mas constitui antes uma mesa de informação, superfície opaca sobre a qual se inscrevem ‘dados’ como a informação substituindo a Natureza, e o cérebro-cidade, o terceiro olho, substituindo os olhos da Natureza”. A mesa-edição-informacional encerra o pensamento de Deleuze sobre imagem-tempo e aponta para um outro lugar cujas “as imagens eletrônicas deverão fundar-se ainda em outra vontade de arte”, o regime da imagem-informação em que se preza o vertical, o horizontal, “a câmera como uma máquina rotativa que obedece aos sons eletrônicos”, do “mundo em movimento, quando tende a tornar-se uma superfície opaca que recebe informações, em ordem ou em desordem, e sobre a qual as personagens, os objetos e as falas se inscrevem como ‘dados’”. A imagem eletrônica sintetiza o ensaio em função desta mesa de edição informacional que foi o vídeo e hoje se configura no digital (DELEUZE, 2005, p. 316-317). Digamos que é a multiplicidade de formas, linguagens absorvidas no processo criativo de Sganzerla que nos leva a compreensão da experiência do ensaio em sua carreira. O que propomos então é investigar os rumos de seu cinema, ou seja, o que vem depois do marginal é o que nos interessa. São seus “filmecos”, curtas-metragens, de baixo orçamento e com produções paupérrimas que evidenciam uma passagem não só estilística, mas caminhos significativos para incrementar a rica história do cinema brasileiro, principalmente no que diz respeito às questões pertinentes ao cine-ensaio no Brasil. |
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Bibliografia | BELLOUR, R. Entre-imagens: foto, cinema vídeo. Tradução de Luciana A. Penna. Campinas: Papirus, 1997. 392 p.
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