ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | O "narrador" autoficcional |
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Autor | Julia Scamparini |
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Resumo Expandido | Ao examinar a obra de Nikolai Leskov em seu conhecido e cultuado ensaio "O narrador", Walter Benjamin lança observações sobre uma arte de narrar clássica que em seu tempo já se mostrava praticamente extinta. Uma das causas por ele apontadas é a miséria das experiências, matéria principal da narrativa, empobrecidas antes mesmo do trauma maior de uma 2a guerra. Ademais, novas práticas sociais, como a do trabalho fragmentado em etapas, após a consolidação da indústria, e a da imprensa e as leituras de massa, com a informação, fizeram emergir um tipo de narrador que se reconhecia em uma nova forma, o romance. Mais complexo e paradoxal, o romance era quase que necessário para que as pessoas pudessem encontrar, num novo mundo, entendimentos sobre a vida. Benjamin associa um novo sujeito, moderno, a um novo narrador, também moderno, integrando vida e arte através do romance. Em “O narrador pós-moderno”, Silviano Santiago estuda alguns contos de Edilberto Coutinho, nos quais identifica um narrador atento à experiência não própria, mas à experiência daquele que é alvo de sua observação, de alguém que o narrador olha, assiste. Esse narrador coloca-se, portanto, como espectador mais do que como quem experimentou uma vivência, dando “palavra ao olhar lançado ao outro para que se possa narrar o que a palavra não diz” (Santiago, 1989: 41). Analogamente ao que faz Benjamin, Santiago não se limita a uma discussão sobre o autor estudado (Leskov, Coutinho) ou sobre o narrador enquanto instância literária, mas efetua uma análise sobre a arte de narrar atrelada a uma forma de se olhar para o mundo característica do fim do século XX, quando não mais se podia pensar um sujeito que não fosse constituído também, e principalmente, pela imagem técnica. Na recente virada de século, assistimos à consolidação da narrativa autoficcional tanto na literatura como no cinema. Com o termo autoficção se entende aqui a narrativa que conta com a presença do autor na mídia de que se trata (literatura ou cinema, em nosso caso), através da doação do nome do autor ao protagonista de um romance, ou da mostração da figura do diretor cinematográfico em um documentário subjetivo. A proposta desta comunicação é examinar uma gama de filmes autobiográficos numa tentativa de investigar um tipo atual de “narrador”, que chamamos autoficcional, e que participa tanto da forma literária como da cinematográfica. As análises indicam as viradas subjetiva e intermedial como essenciais a este retorno do autor, que é inédito porque problematiza concepções como as de ficção e realidade, de documento e objeto estético, de escrita de si e biografia – além da própria noção de narrador, a princípio inadequada como conceito cinematográfico –, conferindo-lhes novos contornos, desenhados pela possibilidade de entrada do sujeito nas mídias e direcionados a um pensamento original sobre as artes narrativas. |
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Bibliografia | ARFUCH, L. O espaço biográfico. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. |