ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Entre a paisagem e a natureza - o cinema de Rose Lowder |
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Autor | Lucas de Castro Murari |
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Resumo Expandido | A noção de paisagem passou por inúmeras transformações e interpretações no decorrer da história do pensamento – conceito ideológico (cf. Cosgrove, 1998), estratégia prospectiva (Appleton, 1975), construção retórica (Cauquelin, 2007) etc. Compreendemos o termo aqui como uma aproximação entre natureza e cultura, um artifício, que se vale da complexificação de elementos sociopolíticos e ecológicos; visuais e sonoros. Estende-se por uma vasta gama de possibilidades: está presente em produções culturais, criações artísticas ou no uso corriqueiro feito pelo senso comum. É uma constructo para além do entendimento sobre espacialidade ou configuração territorial. A filósofa Anne Cauquelin em A Invenção da Paisagem (2007) busca uma investigação de cunho histórico sobre essa noção, e se refere ao termo como um conjunto de valores ordenados em uma visão, expondo com isso a importância do ponto de vista adotado como forma de expressão. Em outra chave de leitura, a paisagem é um meio importante nos estudos do pós-humanismo, que desconstrói a própria centralidade do homem, “mais do que um gênero de arte, a paisagem é um meio não só para expressar valor, mas para expressar sentido, comunicação entre pessoas - mais radicalmente, para comunicação entre o humano e o não-humano, sem perder sua materialidade” (Tuan apud Lopes, 2007, p.136). No campo imagético, é uma vertente bastante explorada por pintores, fotógrafos e cineastas. Foi fortemente recorrida, por exemplo, como estilo: “pintura de paisagem”, ou em certos códigos de filmes de gênero (western, road movies), como também no cinema de vanguarda/experimental. O cineasta e teórico soviético Serguei M. Eisenstein (1987, p.355) define a paisagem como “um complexo portador das possibilidades de uma interpretação plásticas das emoções”, ou seja, um recurso como alicerce de estados afetivos. Buscamos explicitar como é uma manifestação tão numerosa quanto a capacidade de conceitos que pode gerar.
O objetivo deste trabalho é ressaltar a paisagem na hibridização de duas esferas artísticas: cinema e pintura, refletindo sobre uma estética de interação entre elas. Destacamos nessa via a obra da cineasta Rose Lowder. Seus filmes utilizam recursos paisagísticos com intuito de modificar a percepção visual e a representação imagética, valorizando assim aspectos estéticos (formais, plásticos, composições, combinações) do fotograma. Suas realizações carregam a marca do cálculo no que se refere às possibilidades de criação, utilizando técnicas singulares de filmagem e montagem. São métodos radicais que exploram a materialidade fílmica (Gidal, 1989). Além da importância dada à paisagem, a natureza é outro elemento essencial em sua obra. Lowder tem formação artística pela Escuela de Bellas Artes de Lima/Peru (1957-1958); Regent Street Polytechnic (1960-1962), e também na Chelsea School of Art (1962-1964), ambas em Londres/Inglaterra. Ao lado, por exemplo, do trabalho da cineasta Cécile Fontaine, suas pesquisas artísticas se inserem na tradição de formas experimentais plásticas que investigam o potencial de figuratividade da montagem cinematográfica. |
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Bibliografia | APPLETON, Jay. The Experience of Landscape. London: John Wiley, 1975.
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