ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Cinefilia e cultura cinematográfica na Guiné-Bissau |
|
Autor | Paulo Cunha |
|
Resumo Expandido | Flora Gomes, o nome internacionalmente mais reconhecido do cinema guineense, acredita que a Guiné-Bissau “é um país com muita história para contar em diversas formas”, mas é cada vez mais um país sem cinema próprio. Sem produção própria, o cinema da Guiné-Bissau é pratica-mente inexistente e só sobrevive devido a algumas coproduções que são rodadas em território guineense.
Sem meios financeiros e técnicos para ter uma produção profissional própria, o cinema da Guiné-Bissau é praticamente inexistente e só sobrevive devido a algumas coproduções que são rodadas em território guineense ou a apoio financeiro estrangeiro concedido a realizadores guineenses. De uma forma ou outra, a coprodução é hoje um mecanismo vital, não só para a sobrevivência do cinema guineense, mas também para a recuperação da memória visual do país. Os casos de Flora Gomes e Sana Na N’Hada são paradigmáticos do percurso do cinema guineense desde o seu nascimento: todas as longas-metragens realizadas pelas duas principais referências internacionais do cinema guineense, aqueles que foram formados para produzir o olhar pós-colonial guineense, só se concretizaram com o apoio financeiro maioritariamente estrangeiro. Nas últimas duas décadas, Portugal tem sido mesmo o principal financiador do cinema guineense. Perante a falta de apoios financeiros internos, o cinema da Guiné-Bissau, como de outros países da mesma dimensão e na mesma situação político-social, o apoio externo torna-se fundamental. A situação actual, em que o cinema sobrevive numa lógica informal e alternativa em relação aos meios mais convencionais, tem vindo a reconfigurar toda a experiência cinematográfica na Guiné-Bissau. Influenciado pelas práticas produtivas de países africanos com iguais limitações e condicionalismos técnicos e financeiros, a produção e exibição cinematográfica guineense tem evoluído numa lógica de autodidatismo e empreendedorismo. Para além das formais mais convencionais, nos últimos anos tem-se verificado um surto de produção cinematográfica e audiovisual proveniente de núcleos amadores e semi-profissionais que tem aumentado exponencialmente. Trata-se de produções de baixíssimo orçamento, com técnicos e actores amadores ou não-profissionais, com recurso a meios técnicos mais acessíveis aos potenciais realizadores ou meros curiosos. Este tipo de produções não é fácil de mapear porque tem uma circulação local (predominantemente em formato DVD) e porque a maioria dos seus promotores são produtores pontuais. Ainda assim, e graças ao recente recurso à Internet, foi possível identificar alguns produtores mais bem sucedidos. Tal como a produção, o sector da exibição também se tornou progressivamente informal e não-profissional. Apesar de não existir nenhuma sala de cinema comercial licenciada em todo o território guineense, além de algumas salas com programação cinematográfica não-comercial pontual, estima-se que existam só na cidade de Bissau (cerca de 350 mil habitantes) cerca de 150 salões de cinema, com lotação entre os 50-80 lugares. Estes espaços informais destinados à exibição de filmes através de DVD em ecrã de televisão , exibindo sobretudo títulos norte-americanos e produções locais. Mesmo sem as condições formais necessárias, este circuito de salões mantém o sector da distribuição bastante activo e consolidado, promovendo uma cultura cinematográfica muito particular. A partir das ideias de “cinefilia” e de “cultura cinematográfica”, desenvolvidas respectivamente por Antoine de Baecque (2010) e Thomas Elsaesser (2005), pretendo analisar a produção e a circulação de cinema na Guine-Bissau desde o período colonial até à actualidade e reflectir sobre o modo de pensar, ver e fazer cinema nesse território. |
|
Bibliografia | Baecque, Antoine de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, 1944-1968. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
|