ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A ESPACIALIDADE EM ÓRFÃOS DO ELDORADO |
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Autor | Ana Lucia Lobato de Azevedo |
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Resumo Expandido | A proposta deste trabalho é abordar a espacialidade no longa-metragem Órfãos do Eldorado (2015), dirigido por Guilherme Coelho. O filme, que enfoca a volta do filho à casa paterna, se passa no estado do Amazonas, em uma pequena cidade ribeirinha, tanto em suas ruas e espaços interiores - sobretudo aqueles da casa da família -, quanto em meio à natureza - entre o rio e a floresta -, em amplos espaços exteriores. A análise se concentrará na forma como a espacialidade é construída, qual o significado de que se reveste, levando-se em conta seus aspectos visuais e sonoros, o partido estilístico do filme, a fotografia, sua paleta de cores, a montagem, bem como a diversidade de sons que compõem a trilha sonora, aspecto este de extrema importância para a dimensão espacial do longa-metragem. O espaço é, sem dúvida, um aspecto central de uma produção fílmica, levando Henri Agel, em seu livro sobre o espaço cinematográfico, a afirmar, de forma “um tanto categórica”, no entender de Cristian Borges (BORGES, 2007:183), que “um filme é, antes de mais nada, definição de um espaço, inserção de personagens em um cenário natural ou reconstituído em estúdio” (AGEL, apud BORGES, 2007:183). Agel propõe duas categorias espaciais: espaço contraído e dilatado. O espaço contraído se caracteriza pela hostilidade, encerramento, reclusão, enquanto o espaço dilatado pode provocar uma desconstrução libertadora, um respiro, uma abertura (AGEL, apud BORGES, 2007:183-184). Em Órfãos do Eldorado, o espaço diegético é carregado de conotações afetivas, que reverberam o estado interior do personagem principal, Arminto Cordovil (Daniel Oliveira), suas vivências familiares, sua história de vida, sua constituição como indivíduo em meio àquele ambiente. Todos os lugares, sejam os ambientes privados - a casa da família -, sejam os ambientes naturais - as águas do rio, a praia, a floresta -, estão impregnados de forte tom emocional. Há uma espécie de paralisia no ar, uma sensação de sufocamento que se espraia pelos diversos locais; é como se tudo estivesse em suspensão, o ar se revela pesado, de forma quase tátil. Levando em conta as categorias propostas por Agel, minha hipótese, a ser desenvolvida no trabalho ora proposto, vai no sentido de considerar o espaço construído pelo filme como, fundamentalmente, da ordem do espaço contraído, forma como são apresentados, na maioria das situações, tanto os ambientes interiores quanto os vastos exteriores, constituindo-se em um dos veículos de expressão das emoções e sentimentos que o protagonista nutre por aquele território cultural e afetivo, com o qual se encontra irremediavelmente enredado. Arminto não vislumbra saída naquele espaço amazônico, mostra-se encurralado, os ecos de suas vivências ressoam por toda parte como uma fatalidade. Esse estado de coisas atravessa ambientes diversos, passa dos interiores aos exteriores, que muitas vezes figuram em planos contíguos, incluídos em uma mesma sequência. Este trabalho buscará entender como isso de dá, como tal atmosfera perpassa diferentes espaços, como opera a montagem em tais situações, bem como a edição de som. Os espaços são atravessados por temporalidades diversas, aqui e ali vêm à tona as memórias do protagonista, despontam marcas inscritas em seu ser. A dimensão temporal do filme e sua relação com o espaço será abordada recorrendo-se à noção de cronótopo, proposta por Mikhail Bakhtin (1997b), que diz respeito à interligação fundamental entre as categorias espaço e tempo. |
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Bibliografia | AGEL, Henri. L’Espace cinématographique. Paris: Jean-Pierre Delarge, 1978. |