ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Inventar os jogos: o ator no Cinema Marginal e no Grupo de los Cinco |
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Autor | Fernanda Andrade Fava |
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Resumo Expandido | “Inventar los juegos”, ou inventar os jogos, é a última frase de The Players versus Ángeles Caídos e representa bem o espírito do trabalho atoral nos dois filmes analisados. No longa-metragem de Alberto Fischerman, inteiramente criado com inspiração no happening, a livre improvisação dos atores do Instituto Di Tella, de Buenos Aires, num velho estúdio abandonado, cria a dinâmica das cenas e do filme como um todo. Em Bang Bang, a dinâmica é semelhante: sem plot, o filme é um movimento orquestrado em torno de movimentos de câmera, planos-sequências e a interação dos atores. A presença marcante de cena e a persona de Paulo César Pereio, e também dos outros atores, é determinante na mise-en-scène.
Nos dois filmes, não há a construção dos personagens no sentido clássico. Sem apresentação, evolução ou nuances psicológicas, os seres que habitam a tela são pura corporalidade, exterioridade, verborragia e gestual. A cada momento, eles podem alterar o registro de atuação, mudar de identidade e de personalidade, de acordo com a cena e sem motivação conhecida. Os diálogos e monólogos ressaltam muito mais a interpretação, a entonação, a encenação; não cumprem uma função narrativa, de desenvolvimento de um enredo. O rosto do ator explora a potência da expressão facial e é, ao mesmo tempo, uma tela em branco esperando ser preenchida, seja pela pintura do clown dos Players, seja pela máscara de macaco de Pereio, para provocar uma transformação também dos jogos. Em ambos filmes, é evidente na imagem o papel fundamental da participação dos atores, seus repertórios e suas personas, no processo criativo e determinando o resultado final. Sendo assim, é possível ativar diferentes teorias sobre o trabalho do ator de cinema que dialogam e oferecem ferramentas para a leitura do registro de atuação nos dois filmes – e, de maneira mais ampla, nos dois movimentos cinematográficos em questão. O ator como autor, a expressão usada por Patrick McGilligan (1975, p. 199), exprime a centralidade dos atores aqui estudados no processo: “um ator pode influenciar tanto quanto um roteirista, diretor ou produtor (...); e há alguns poucos e raros intérpretes cujas capacidades de atuação e persona na tela são tão poderosas que eles encarnam e definem a própria essência de seus filmes”. Com relação à materialidade e exterioridade do corpo do ator como uma proto experiência performática no cinema, podemos evocar a concepção de André Parente (2000, p. 106) a respeito de uma terceira tendência do experimental, a do “cinema do corpo”, que "introduz a duração nos corpos, fazendo-os sair do presente linear", marcada por "teatralização cotidiana do corpo", construída "gesto por gesto e palavra por palavra". A representação corporal também pode ser analisada sob o viés do happening, como se dá a leitura de David Oubiña (2011) e que também tem a ver com o “ato corporal expressivo” de Oiticica. Em específico sobre as singularidades do rosto do ator no cinema, este trabalho retoma Mikhaïl Iampolski (1994, p. 28) e o mecanismo do rosto-máquina, em primeiro lugar, o dinamismo mecânico dos movimentos faciais e corporais, “com ausência total de motivação psicológica”. E, em segundo lugar, o rosto-máscara histérico, que “conserva todos os atributos da máscara privada de expressividade, sua imobilidade, seu vazio, aliada à pegada enérgica do movimento muscular mecânico do rosto-máquina” (IAMPOLSKI, 1994, p. 36). Este artigo dialoga com minha pesquisa de mestrado em andamento, na qual realizo um estudo comparativo entre Cinema Marginal, Grupo de los Cinco e Cine Subterráneo (também argentino), com foco na apreensão de tempo e espaço das narrativas, o trabalho dos atores e as alegorias. Os corpos performáticos e a exterioridade da atuação faz a ponte com singulares experiências temporais e espaciais nos filmes, que juntos se inserem no paradigma mais amplo das narrativas modernas após 1968, fornecendo pistas para enxergar nas obras potentes metáforas de um momento histórico. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Du Visage Au Cinéma. Paris: Editions de l’Etoile/Cahiers du Cinéma, 1992.
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