ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | As mulheres hindus no cinema de diáspora indiano de Deepa Mehta |
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Autor | Juily Jyotsna Seixas Manghirmalani |
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Resumo Expandido | A "Trilogia dos Elementos" da diretora Deepa Mehta, foi lançada entre 1996 e 2005 e trabalha de forma alegórica a relação do corpo e gênero feminino com a nação indiana e o hinduísmo.
O primeiro filme, "Fogo e Desejo" (1996), questiona a ideia coletiva de gênero imposta a todas as mulheres indianas e pela qual elas podem ser discriminadas em níveis de normatividade. Ao se passar diegeticamente no começo dos anos 1990, o filme apresenta as possibilidades de articulação do desejo feminino dentro da classe média hindu, em que frequentemente é repreendido ou condenado por normas sociais. Por outro lado, ele apresenta a afiliação e a ligação das protagonistas femininas de forma a reverter estas formas opressivas e recuperar a autonomia de suas sexualidades. A existência e a união do casal Radha e Sita torna-se uma forma de resistência de gênero a regimes sociais, já que "Fogo e Desejo" não apresenta as protagonistas como lésbicas reprimidas, mas sim sujeitos resultantes da modernidade na Índia em processo de globalização. Deepa Mehta pontua como a história indiana caracterizou as mulheres como uma massa coletiva, sem poder ou ambições individuais. O segundo filme, "1947-Earth" (1998), problematiza de forma inovadora a Partilha, através do testemunho de uma visão feminina desse processo de divisão territorial entre a Índia e o Paquistão. O filme é contado pela perspectiva de Lenny em sua fase adulta, sobre esse momento histórico que ocorreu em sua infância, em relação à culpa e à perda da inocência, dentro de um contexto histórico traumático. Durante a Partilha, os corpos femininos foram utilizados como prêmios de guerra e conquista entre as comunidades étnicas. Um dos protagonistas masculinos, Dil Navaz, é um mulçumano enraivecido que utiliza a religião como ornamento, junto das forças nacionalistas emergentes, para conseguir o que deseja perante o momento de guerra no país. Com isso, ele acaba por relacionar o corpo de Shanta, a babá hindu de Lenny, como exemplo de prêmio da guerra sectária, ao abduzi-la de forma violenta ao final do filme. O terceiro filme, "As Margens do Rio Sagrado" (2005), relata a tentativa de resistência de gênero de três mulheres, Chuyia, Kalyani e Shakuntala, que buscam questionar o ciclo imposto pelo hinduísmo à condição de viuvez. O filme passa-se em 1938, em um mosteiro que é financiado por caridade e prostituição. Madhumati é a idosa viúva que comanda o local e que negocia a prostituição de Kalyani, uma das mais jovens viúvas. Na primeira parte do filme, o foco se encontra na pequena Chuyia, de 8 anos, ao tornar-se viúva e entrar para o mosteiro. Após conhecer Kalyani, ambas se tornam as personagens condutoras dos conflitos do filme. Kalyani é vista metaforicamente como a flor de lótus, referida como a flor que sobrevive em águas sujas. O corpo da jovem não é apenas marginalizado como o das outras viúvas pela sociedade, mas também pela prostituição. Shakuntala é mais velha e alfabetizada que começa a questionar a sociedade e a religião em que está inserida em relação a vida em que são obrigadas a levar. Rama Rani Lall (in JAIN, 2007, p. 236) elege três poderes estruturais responsáveis pela situação das viúvas. O primeiro seria o aspecto ideológico religioso. A interpretação feita por religiosos de poder, acaba por implicar juízo de valores em mulheres e viúvas. A segunda seria a hegemonia patriarcal dos donos de terra e pequena nobreza liderada por homens. Esta explora as viúvas que se encontram marginalizadas por instituições sociais para satisfazer seus desejos físicos. Por último, a falta de poder feminino, que sofrem continuamente com o jugo masculino. Elas acreditam que estas são as condições e limitações a quais estão designadas, vividas por gerações, sem qualquer opção ou esperança. Como uma obra fechada, a "Trilogia dos Elementos" apresenta diversos problemas relacionados à sociedade, à cultura, à religião e ao corpo das mulheres. |
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Bibliografia | BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
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