ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A paisagem potencializando a atmosfera filmica no cinema brasileiro |
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Autor | India Mara Martins |
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Resumo Expandido | A representação da paisagem é um dos aspectos fundamentais na criação de certos tipos de atmosfera fílmica. Neste sentido estamos aproximando o conceito de atmosfera da ideia de espaço psíquico. O psiquiatra suíço Ludwig Binswanger considera a atmosfera como um espaço que põe em causa a relação do homem com o mundo. A atmosfera é por natureza subjetiva, porque nasce a partir da realidade afetiva dos indivíduos que a projetam no seu espaço. Ludwig Binswanger foi um dos primeiros a se interessar pela compreensão da categoria atmosfera do ponto de vista fenomenológico. O espaço estaria diretamente ligado à noção de atmosfera porque é ai que ela se cria. O autor distingue dois tipos de espaço: o primeiro é um espaço concreto, medível e claramente percebido – é o espaço orientado. O segundo, ao contrário do primeiro, é um espaço que não é objetivável porque não tem uma estrutura determinada – é um espaço atmosférico ou thymique, que tem qualidades próprias ligadas a percepção afetiva. "Em fenomenologia, o espaço sempre é espaço tímico, ou seja, um espaço afetado por uma coloração afetiva fundamental. A tonalidade climática especifica uma forma de “presença à...”; ou seja, um modo de comunicação determinado com as coisas, num mundo que não está simplesmente diante de nós, mas que atravessa o pathos inerente à situação (CHAMOND, 2011). A representação do espaço no cinema é uma instância narrativa e também uma opção política e estética. É o projeto visual, num primeiro momento, que define como será a construção espacial de um filme. A paisagem, historicamente, é uma das formas de representação do espaço que possibilita o desenvolvimento de atmosferas. O objetivo deste artigo é refletir sobre a representação da paisagem no cinema contemporâneo brasileiro e sua capacidade de potencializar determinadas atmosferas. O cinema contemporâneo brasileiro, de ficção e/ou não ficção, tem apostado na representação de paisagens muito diversas. Para ficar apenas nos extremos pensamos em filmes que representam o nordeste do Brasil, assim como Viajo porque preciso, volto porque te amo (Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, 2009), A história da eternidade (Camilo Cavalcante, 2014); e o sudeste O lobo atrás da Porta (Fernando Coimbra, 2013), em São Paulo e, Crônica da Demolição (Eduardo Ades, 2015), no Rio de Janeiro. O que eles têm em comum é a representação da paisagem que vai além do seu aspecto físico, material, se aproximando da representação de um espaço psíquico. Inês Gil diz que “pode-se definir a atmosfera como sendo um espaço mais ou menos energético, composto por forças visíveis ou invisíveis, que têm o poder de desencadear sensações e afetos nos receptores. É a natureza dessas forças, o seu ritmo e a sua relação que determinam o seu caráter” (GIL, 2005, p. 22). No cinema, mesmo tendo um certo nível de analogia com o espaço real, os espaços não correspondem no filme exatamente ao que são em sua estrutura física e material. Isto é, quando pensamos os cenários, não estamos preocupados com o resultado que eles apresentam aos nossos olhos. Eles são concebidos em função do rendimento a ser alcançado a partir dos enquadramentos, lentes e suporte de impressão a ser utilizado. Os lugares são construídos e organizados, portanto, para renderem uma determinada imagem. Por outro lado, temos uma série de filmes nos quais os lugares são constituídos pelos acasos, pela perambulação, pelos fluxos gerados pela própria cidade, estes filmes se diferenciam por representar a experiência espacial e revelar como ela modifica a natureza própria da imagem. São projetos cinematográficos distintos, mas que encontram na representação da paisagem diferentes possibilidades de criar e intensificar a atmosfera fílmica. |
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Bibliografia | BINSWANGER, L. Le problème de l´espace em psychopathologie, Toulouse, Presses Universitaires du Mirail, 1998. |