ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Explodindo a Ficção: invasões iconográficas em filmes de Lars v. Trier |
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Autor | Patrícia Kruger |
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Resumo Expandido | O cineasta dinamarquês Lars von Trier tem constantemente travado relações não apenas com o universo do próprio cinema, mas também com outros segmentos da cultura e das artes, como a filosofia, as artes plásticas, a ópera, a música pop, a dramaturgia e a literatura. Diversas referências têm sido identificadas em suas obras que remontam a estes âmbitos – lembremo-nos, por exemplo, da referência à ópera wagneriana, já presente em Epidemia (Epidemic, 1987) e retomada em seu último trabalho, Melancolia (Melancholia, 2011); ou da importância da música pop em Dançando no escuro (Dancer in the Dark, 2000) e dos intertítulos de Ondas do destino (Breaking the Waves, 1996). Em se tratando de textos literários, e aqui estamos considerando também o texto teatral, Trier tem também explicitado a relevância de autores tais como Marquês de Sade, Bertolt Brecht e August Strindberg em vários de seus trabalhos.
As intersecções de suas obras com as artes plásticas também são bastante significativas. O próprio Trier, a esse respeito, comparou seu filme Anticristo (Antichrist, 2009) à pintura O Grito (Skrik, 1893), do pintor norueguês Edvard Munch, em uma entrevista dada pouco depois do lançamento do filme (ROMER, 2009). Discutindo o papel de filmes para além da evocação de emoções, a comparação com a obra de Munch, um dos marcos da arte expressionista (contrária, portanto, a representações naturalistas), é bastante relevante por orientar a interpretação de Anticristo que reconhece, fundamentalmente, seus elementos anti-ilusionistas. As próprias composições imagéticas de diversas tomadas de Trier criam o que podemos considerar verdadeiras obras pictóricas, como os próprios intertítulo de Ondas do Destino. Esse tipo de elaboração também pode ser notado no filme Anticristo, por exemplo, nas imagens oníricas do Éden que a personagem feminina é induzida a imaginar. Nas palavras do cinegrafista Anthony Dod Mantle, em entrevista concedida ao site Time Out London: “o que você vê é tão desacelerado que pela primeira vez no cinema eu tive a impressão de assistir a um filme da maneira que eu olho para uma pintura” (JOHNSTON, 2009). Além disso, muitos críticos destacaram a evocação de imagens de Hieronymus Bosch, também nesse filme, e como Trier recria a pintura Ophellia (1852), de Sir. John Everett Millais, na obra Melancolia. Mas o que dizer dos elementos iconográficos (fotos, pinturas, gravuras, xilogravuras, etc) que não são criados ou aludidos por Trier, mas que “invadem” a tessitura de seus filmes? Quais seriam as motivações para se estabelecer contato com elementos da “vida real”, que explodem os limites da ficção? Que tipos de relações esses elementos trazem ao próprio ponto de vista de seus filmes? Nossa proposta é averiguar as consequências dessa prática em alguns filmes de Trier, como Europa (1991), Dogville (2003), Manderlay (2005) e Anticristo (2009). Procuraremos analisar os elementos iconográficos em seus próprios termos e também os novos significados erigidos da confrontação de filmes de Trier com essas inusitadas referências iconográficas. |
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Bibliografia | BADLEY, Linda. Lars von Trier. University of Illinois Press: Chicago, Springfield, 2010
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