ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | O CINEMA DE AMBIÊNCIAS DE ALEKSANDR SOKUROV |
|
Autor | Alex Sandro Martoni |
|
Resumo Expandido | A dissolução do paradigma epistemológico sujeito/objeto se notabiliza como um dos fenômenos mais sensíveis à estética contemporânea. Em seu lugar, novos instrumentos operatórios têm sido propostos com o objetivo de constituir modos de reflexão atentos às relações produzidas nas complexas articulações entre as dimensões material, afetiva e cognitiva, tais como “forças de encontro” (Teoria dos afetos); “sistema/ambiente” (Teoria das mídias); e “atmosfera/Stimmung” (Teorias da arte, do cinema e da literatura). É dentro dessa perspectiva que este trabalho tem como objetivo refletir sobre as implicações desses novos horizontes teóricos para os estudos de cinema, particularmente sobre como eles reconfiguram o modo como compreendemos categorias já consolidadas por essa tradição, como narratividade, estilística, mise-en-scène, e espectatorialidade, assim como nos fornecem novos instrumentos para pensarmos fenômenos estéticos próprios ao cinema contemporâneo. Para tal, vamos nos deter em alguns aspectos da obra do realizador russo Aleksandr Sokurov.
A singularidade do cinema de Sokurov, no horizonte do cinema contemporâneo, reside no modo como o realizador impõe uma transformação alquímica à materialidade dos meios envolvidos nas várias etapas da produção de seus filmes, dentre as quais, destacam-se o rigoroso trabalho de iluminação voltado à modelação dos espaços, a profunda e obsessiva intervenção na paleta cromática, o uso frequente de lentes anamórficas, a súbita irrupção de diferentes texturas e granulações, de modo que o espaço fílmico se torna um lugar onde o visual se torna táctil; o cintilante, opaco; o concreto, evanescente. É dentro dessa perspectiva que nos cabe perguntar: como os diversos suportes fílmicos e sua mescla com a tecnologia digital influem na construção de determinadas atmosferas? Como as potências materiais da imagem impactam o espectador em seu nível corporal? Como fenômenos plásticos, acústicos e verbais se articulam, de forma intermedial, no processo de produção dessas ambiências? Na medida em que uma noção expandida de atmosfera coloca em evidência o fato de que nossa relação sensível com o mundo não é a de um sujeito posto diante de um objeto, mas a de um encontro e de uma interação permanente entre o dentro e o fora, o eu e o outro, a rubrica atmosferas no cinema nos convida não só à reflexão sobre os processos de conceituação, classificação e produção de paisagens/ambiências visuais, sonoras e seus desdobramentos na dimensão afetiva, mas também a pensar sobre as condições técnicas, históricas e políticas em que o perceptível é produzido. |
|
Bibliografia | BÁLAZS, Béla. Der sichtbare Mensch. Berlin: Suhrkamp, 2001.
|