ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Pela reabilitação da entrevista na prática documentária - parte 2 |
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Autor | Laécio Ricardo de Aquino Rodrigues |
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Resumo Expandido | A proposta, a segunda de uma provável trilogia, integra um projeto de pesquisa aprovado no âmbito do Depto. de Comunicação Social da UFPE, intitulado "Do encontro previsível à cena revigorada – a entrevista no documentário contemporâneo". Trata-se de uma investigação que almeja reavaliar o expediente da entrevista na prática documentária, a partir do exemplo de alguns filmes recentes que desafiam o seu emprego convencional – entrevistador e personagem posicionados em zonas de conforto, sem riscos para ambos, integrando uma cena que não solicita engajamento político por parte do espectador (Rancière, 2011). No encontro passado, nos dedicamos a uma recapitulação da emergência e consagração da entrevista na prática documentária, seguida de um posterior esvaziamento, em virtude do seu emprego precário pela televisão (neste domínio, a palavra revigorada pela tomada direta foi substituída pelo comentário breve e aos entrevistados não é concedido tempo para manifestar sua visão de mundo), mas também por cineastas menos criativos, que preferiram abdicar das tomadas onde a duração era um valor inalienável (o que permitia ao personagem experimentar novas derivas em cena), convertendo seus interlocutores em "talking heads". Esta segunda parte da pesquisa sinaliza um novo movimento: o de mapeamento de algumas obras recentes que investem em outras possibilidades de emprego da entrevista. Afinal, como sugere Comolli, apesar da precarização acima descrita, este recurso nunca deve ser encarado como banal e, tampouco, sem desafios. Em suas palavras, “convocar alguém para compor uma cena e fazê-lo falar e, eventualmente, escutá-lo [...] nunca foi e nem pode ser um gesto anódino” (2008: 86). E se neste embate (mediado pela câmera e marcado por desejo e violência) as partes envolvidas não se comprometem entre si, nos diz ele, “a máquina capta – cruelmente – a nulidade desse encontro”. Em síntese: “não se filma impunemente – menos ainda o corpo do outro, sua palavra, sua presença” (2008: 86). Assim, não obstante o diagnóstico anterior, e em sintonia com Comolli, acreditamos que a prática da entrevista não pode ser descartada em virtude dos pecados no varejo. Caberia antes repensá-la, reavaliá-la e reativá-la, enquanto instrumento capaz de reabilitar a potência dos encontros na tomada direta. Deste modo, na contramão dos ensaios que ratificam o seu esvaziamento, este estudo propõe reabilitar as potências da entrevista na contemporaneidade, destacando o seu uso criativo em alguns títulos (obras que converteram o encontro, de evento previsível, em cenas revigoradas). Nesta apresentação, portanto, quero destacar dois filmes que, frente o “apelo realista” que caracteriza a produção audiovisual recente, e intensificando práticas reflexivas maturadas no cinema moderno (que revelam a dimensão discursiva da atividade cinematográfica), preferem problematizar o antecampo, os bastidores e as negociações que presidem a produção de qualquer registro, questionando a imagem (inspirando dúvidas) e explicitando as relações de poder que permeiam o gesto criativo e o ato da entrevista. São eles: "Santiago" (2007), de João Salles, e "Os dias com ele" (2014), de Maria Clara Escobar. Mediante o emprego de práticas ensaísticas, Salles, em "Santiago", traz os bastidores para o primeiro plano, contribuindo assim para problematizar velhos dilemas do documentário (a mobilização da crença), para ressaltar a dimensão subjetiva de toda obra fílmica e para acionar uma conduta crítica no espectador. No filme de Maria Clara, os dias vividos com ele, o pai, são dias de enfrentamento, de lenta aproximação e eventuais recuos; o testemunho ambicionado não é uma via fácil e abertamente consentida. Assim, pouco vemos da obra que Maria Clara deseja realizar; o que vaza são as negociações, as esquivas e disputas. |
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Bibliografia | ARFUCH, Leonor (1995), La entrevista, una invención dialógica, Barcelona: Paidós. |