ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | 11/9 e os filmes-catástrofe a partir do Unheimliche de Freud |
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Autor | Tiago Sarmento |
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Resumo Expandido | Em 2016, "celebramos" 15 anos dos atentados de 11 de setembro, considerado por muitos o marco simbólico da virada do milênio. O estatuto fantástico dos ataques às Torres Gêmeas acabou por se tornar mais "valioso" que os próprios danos materiais causados pelos terroristas. Entre identificações, empatias, angústias, traumas e uma constante sensação de vigia, o "fascínio" por este evento pode ser datado até mesmo de antes de sua ocorrência. A utilização de termos como celebração, valor e fascínio não é a toa. Valores e afetos podem ser intensos em igualdade, independente se positivos ou negativos; a celebração é um significante ligado a honrar algum evento ou pessoa, seja viva ou morta; e o fascínio, como veremos, pode ser engatilhado pelo belo ou pelo horrível. É calcado neste jogo de sentidos opostos que trazemos O Estranho de Sigmund Freud (1919/1990) para uma reavaliação teórica em diálogo com os filmes-catástrofe de destruição da cidade de Nova Iorque. Sendo um conceito muito utilizado para análises estéticas de obras de ficção, seja da literatura ou do cinema, o Unheimliche muitas vezes sofre distorções em sua interpretação devido às edições em português serem traduzidas do inglês – e não diretamente do alemão, – tendo, assim, termos importantes para o campo da psicanálise traduzidos de forma parcial e não muito esclarecida. Além disso, observa-se uma tendência de autores que buscam utilizar o ensaio de Freud em isolar o Unheimliche do resto da teoria psicanalítica, excluindo sua importantes conexões com outros conceitos – assim como a tradução também acaba por excluir. O Unheimliche vai além do que se associa apenas ao horror e ao que causa medo; nos primeiros parágrafos da obra em alemão, se confrontado com as edições em português e inglês, vemos como um simples termo – angst, traduzido como ansiedade pela língua inglesa – pode se tornar duvidoso. No entanto, para uma melhor compreensão do Unheimliche, nos sentimos compelidos a buscar essas significações em outros textos-chave da obra do autor, como Além do Princípio do Prazer (1920/1990) ou Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926/1990), onde uma pertinente discussão se abre: seria angst um termo corretamente traduzido por ansiedade? Estaria a frase no terceiro parágrafo de O Estranho, “relaciona-se indubitavelmente com o que é assustador – com o que provoca medo e horror” (FREUD, 1919/1990, p. 275-6) correta? Por que os autores interessados no tema tendem, então, a ignorar a frase seguinte do contexto, “certamente, também, a palavra nem sempre é usada num sentido claramente definível, de modo que tende a coincidir com aquilo que desperta o medo em geral” (Idem)? Qual a relação entre o Unheimliche e a ficção – sempre ancorada em fantasias? É tendo este panorama em vista que buscamos um diálogo entre os blockbusters Independence Day (EMMERICH, 1996) e Os Vingadores (WHEDON, 2012) e a inquietante estranheza proveniente do Unheimliche freudiano com os atentados de 11 de setembro. O fascínio do público pela constante destruição da cidade de Nova Iorque – e a sua suposta certeza de que aquilo era parte apenas da ficção –, ao entrar em desacordo com a chocante realidade dos atentados, pôs em xeque essa realidade. Se Freud nos diz que bastaria um momento de dúvida sobre a possibilidade real de determinado evento acontecer para que o Unheimliche se instaure (FREUD, 1919/1990, p. 308), poderíamos encontrar nesta relação proposta um material de análise para aprofundarmos nos estudos acerca do Unheimliche e da própria noção de trauma social? Apoiados nas discussões sobre os filmes pós-11/9 (POLLARD, 2011), do cinema das narrativas clássicas (BORDWELL, 1985; THOMPSON, 1999; WYATT, 1994) e dos conceitos de trauma, angústia, estranheza e realidade psíquica da teoria psicanalítica, buscamos compreender melhor o porquê deste inquietante fascínio por catástrofes de escala global que levam milhões às salas de cinema e quais as suas relações com o psiquismo do sujeito contemporâneo. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Narration in fiction film. New York: Routledge, 1985. |