ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Entre a retórica e a base de dados: o material de arquivo no i-doc |
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Autor | Gianna Gobbo Larocca |
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Resumo Expandido | Mudanças tecnológicas podem contribuir para operar reconfigurações estéticas e metodológicas no documentário, redefinindo também o que é aceito institucionalmente como pertencente ao gênero. Um exemplo notório na historiografia do documentário é a relevância conferida à emergência de câmeras leves e aparelhos de gravação de som direto na conformação do cinema observativo e participativo, segundo os modos de representação propostos por Nichols (2014). Ênfase semelhante na importância da inovação tecnológica para a reconfiguração do gênero também tem sido frequentemente empregada pelos teóricos que se dedicam ao estudo dos documentários interativos (Gaudenzi, 2012 ; Aston, 2012). Documentários interativos (i-docs) são filmes distribuídos em plataformas web que se apropriam da tecnologia digital interativa no campo da exibição, afetando a experiência de fruição do espectador. Essa mudança implica uma modificação na forma de organizar o conteúdo narrativo e de solicitar a participação do expectador. Conforme Gaudenzi , o documentário interativo adiciona à demanda de interpretação, solicitações de participação física por parte do espectador, tais como clicar, mover, teclar. Além disso, segundo a autora, diferencia-se do documentário linear por agregar qualquer tipo de mídia e de borrar os limites entre as decisões do realizador e do espectador na conformação final do filme. No gênero emerge a potencialidade do papel colaborativo do espectador (muitas vezes chamado de usuário em consonância com a denominação comum na área de tecnologia digital). A participação do espectador-usuário diante da plataforma interativa costuma ser o eixo central dessas teorias que buscam estabelecer as bases de entendimento do i-doc. A ênfase na base tecnológica pode, contudo, obscurecer as relações que o i-doc guarda com o documentário tradicional linear. Tal abordagem motiva Gaudenzi a propor o i-doc como um novo gênero, à parte na história do documentário. A autora propõe uma taxonomia que ignora os componentes textuais tradicionais do gênero e contempla apenas os modos de interatividade colocados em jogo no i-doc, relevantes na medida em que informam diferentes negociações do espectador na construção do mundo histórico. Contudo autoras como Nash (2012) e Levin (2015), apontam que embora esse tipo de documentário traga questões inéditas para o gênero, não deixa de recorrer a estruturas textuais e estéticas sistematizadas na teoria dos documentários. Nash aponta que a audiência usa o conhecimento que tem dos documentários lineares para situar-se em relação ao i-doc. Também é relevante pontuar a aceitação da versão interativa no campo institucional do documentário, o que segundo Nichols é um dos parâmetros de definição de pertencimento ao gênero. Nash propõe pensar o i-doc em uma relação entre texto, espectador e as possibilidades de interação, em uma abordagem híbrida do gênero que permite colocar as propostas interativas e affordances da base digital dentro do regime discursivo específico de um filme - e não apenas de maneira generalizada como os modos de interação proposto por Gaudenzi sugerem. Assim pode-se observar como as oportunidades de interação são configuradas dentro do contexto do i-doc e como o seu enquadramento incentiva a participação do espectador em uma relação dialógica com tradição documental narrativa e o conhecimento prévio do espectador. A partir dessa abordagem, propomos pensar as continuidades e descontinuidades no tratamento do material de arquivo em documentários interativos, através da análise do i-doc A Short History of Highrise (Katerina Cizek, 2009). Contemplando as tradições do documentário linear no tratamento do material de arquivo e abordando as possibilidades interativas da plataforma digital que lhe permite acesso diferenciado, pretendemos tecer uma reflexão sobre as tensões e intersecções entre a retórica do tradição documental e a base de dados digital. |
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Bibliografia | ASTON, J; GAUDENZI, S. “Interactive documentary: setting the field”. In: Studies in Documentary Film, 2012, pp. 125-139. |