ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | OLHARES SOBRE A DIVERSIDADE PERIFÉRICA |
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Autor | Nizia Villaça |
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Resumo Expandido | Diante do esfacelamento da realidade é comum ver a mídia produzir uma espécie de curadoria da cidade, conjugando a narrativa do Rio Maravilha, Rio do turismo e da moda e o Rio violento e marginal. Neste contexto é interessante apontar o aumento da variedade narrativa sobrre a cidade que vai encontrar na periferia protagonistas para uma infindável repaginação. Nesta dinâmica surge tanto a voz das comunidades, quanto a da indústria cultural. Carlos Diegues, promotor de “5 X Favela”, filme que vem agora dirigido por cinco habitantes da periferia fala da nova linguagem audiovisual do “cinema de retomada” sobre a periferia: “agora temos um ponto de vista diferente. Um ponto de vista de dentro está levando “5 X Favela” – agora por nós mesmos”. Este novo olhar sobre as favelas é uma constante onde a reurbanização substitui a erradicação e a exposição de abril deste ano no Museu da Casa Brasileira, “Cidades Informais do Século 21”, dá pistas sobre esta mudança. A superficialidade dos relatos da mídia parece sugerir o sucesso definitivo das periferias assediadas por diretores de filmes, artistas e turistas. O êxito está presente na manchete “Favelas viram as grandes estrelas”, mostrando que as favelas andam mesmo em alta na indústria cultural made in Rio. Por ocasião do carnaval na Marquês de Sapucaí as Escolas de Samba Portela, Unidos de Vila Isabel e Estação Primeira de Mangueira trouxeram carros alegóricos com representações bem particulares dos morros cariocas. Na Azul e Branco de Madureira, a favela simboliza com o carro “Conquistando a liberdade”, a inclusão digital como forma de contribuir para a paz no Rio. Também as UPPs são apontadas no enredo como solução para a cidade. Imagens periféricas O cinema hoje abdica em parte do fardo sociológico que carregava no cinema novo preocupando-se mais em captar o estilo pessoal dos atores sociais. Um bom exemplo é o filme “Sonhos roubados”, de Sandra Werneck, em que três amigas vivem o dia-a-dia da favela construindo seus destinos no cruzamento das relações familiares, amorosas e de trabalho. Tudo fazem pelo consumo e pelo “estilo” numa série de escolhas que nos faz pensar em Gilles Lipovetsky e seu O império do efêmero quando fala dos processos de personificação construídos incessantemente. As meninas e seus corpos oscilam numa constelação de valores e escolhas que parecem se equilibrar e equivaler num clima de deriva que, ao final do filme, parece resultar em liberdade prazerosa. São sequências que se sucedem ou se alternam num ritmo que exemplifica o capitalismo flexível a que se refere Sennett. Transar ou não transar, pintar o cabelo ou não, escolher este ou aquele objeto, procurar o pai, fazer festa de quinze anos, ajudar o avô, namorar presidiário etc, etc. Um exemplo perfeito da deriva a que se refere Sennett ao descrever o capitalismo flexível. Nossa hipótese é que a mídia no afã de criar novos olhares sobre a periferia continua alternando a demonização deste mundo com a crescente implementação de ficções românticas que se inclinam em variadas direções. No cinema, valores como liberdade de opções, estratégias de resistência e comportamentos estilosos na modelagem sex and the city são exemplos. Discutimos a real possibilidade de intervenção e recriação dos sentidos pelos atores sociais da periferia, as possíveis manipulações da indústria cultural. Grande parte dos relatos da mídia contemporânea não apresenta um grau de processualidade que permita refletir sobre as interações entre a comunidade e as instituições estatais e/ou privadas que se dedicam à criação da sustentabilidade destas áreas que na cidade começam a ser ocupadas/pacificadas pelas UPPs. Nosso propósito é tentar refletir como a periferia afirma, negocia ou recusa a imagem disseminada pela mídia, o que está sendo realizado em contatos não sistemáticos com algumas comunidades. |
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Bibliografia | BOLLON, Patrice. A moral da máscara. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. |