ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Rio em Chamas: Cinema de Conflito. |
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Autor | Gabriel Neiva |
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Resumo Expandido | O longa metragem “Rio em chamas” concentra-se em armazenar cenas de conflitos sociais e institucionais registrados em 2013, tendo como principal catalisador as ondas de manifestações realizadas em junho daquele mesmo ano. Dividido entre doze realizadores, a película se apresenta como um “filme manifesto”, que mistura imagens de protestos, encenações, registros jornalísticos e diálogos entre poetas, acadêmicos, cineastas, manifestantes. Propõe-se aqui pensar o “Rio em chamas” como ramificação do chamado “cinema de garagem brasileiro do século XXI”, termo cunhado por Marcelo Ikeda e Dellani Lima (2012), referindo-se a filmes de baixo orçamento e “narrativa não tradicional”, mas detentores de uma grande potência afetiva, transbordando o desejo quase explosivo em refletir sobre o universo ao seu redor. O filme segue tal linha ao fugir da linearidade narrativa, evitando também o tradicional “cinema de autoria”, misturando segmentos dirigidos por cineastas “profissionais” como o de Daniel Caetano, Cavi Borges e Clara Linhart com diversos registros “amadores” de imagens que foram vinculados pelos “midiativistas”. O “Rio em chamas”, porém, tem um mote discursivo bem diferente: o seu fio condutor é o jogo de confronto entre os poderes institucionais (interpretado pelos policiais militares) e uma parcela da sociedade civil (representada pelos manifestantes). Uma das frases ali contidas elucida de forma cristalina que além da rua, o cenário fílmico principal tem a rua como um “território de disputa”. O filme tem cerca de uma hora e cinquenta minutos. Escolhe-se, então, alguns trechos para análise, principalmente as cenas e os segmentos cujo conflito social está mais presente. As imagens geradas pelos “midiativistas ” Tamur Aimara e Guilherme Rodriguez registraram alguns eventos chaves dos ciclos de manifestações em 2013. Do início ao final da película, Aimara e Rodriguez revelam algumas cenas de confronto delineando uma representação de cidade “em chamas” e demonstrativa da posição crítica dos seus realizadores em relação às ações das instituições policiais. Assim sendo, para melhor compreender o contexto histórico dos confrontos presentes em “Rio em chamas”, parte-se aqui de um repertório que repensa o cinema independente brasileiro no século XXI e suas modalidades. Além dos já citados Ikeda e Lima (2011), Cezar Miglorin (2011) articula propostas para um “cinema pós industrial”, fruto das novas vontades e potências criativas, situadas fora dos grandes cinemas. Além disso, em estudos sobre esse novo cinema, Luiz Zanin Orrichio (2003), Lúcia Nagib (2006) e Franthiesco Ballerini (2012) refletem sobre as novas possibilidades estéticas que vem emergindo no Brasil. Através da ótica das representações de cunho confrontativo, é preciso recordar o inventário histórico que Jean Claude Bernardet (1985) realizou sobre o documentário brasileiro de cunho político em “Cineastas e imagens do povo”. Anita Leandro (2011) investigou os caminhos do cinema militante em uma série de documentários. E sob um olhar mais atual, Cezar Miglorin (2012) se debruça sobre as possibilidades de engajamento político no cinema contemporâneo. Voltando ao “Rio em chamas”, analisa-se aqui principalmente aas cenas em que a representação de um ambiente em constante embate é hegemônica, sendo a violência o principal vínculo entre instituições policiais e cidadãos manifestantes. As imagens aqui geradas parecem também revelar uma narrativa de conflito. Quais são os possíveis sentidos desse discurso imagético? |
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Bibliografia | BALLERINI, Franthiesco. Cinema brasileiro do século XXI. São Paulo: Editora Summus, 2011. |