ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Narrativas Criminais e Convergência na TV da América Latina |
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Autor | Luiza Cristina Lusvarghi |
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Resumo Expandido | A ascensão da plataforma Netflix como distribuidora e produtora de conteúdos na região vem impulsionando a consolidação de um novo modelo de negócios multiplataforma que privilegia projetos transmídia, interculturais e transnacionais. O movimento afeta tanto as emissoras tradicionais, que buscam eliminar essa defasagem, quanto as instituições públicas, que vêm lançando serviços similares, disponibilizando gratuitamente suas produções em ambientes virtuais, caso da CDA – Contenidos Digitales Abierto – da Argentina. Em minha pesquisa Transmidiação, Transnacionalismo e Interculturalismo. A Lei, o Crime e a Nova Ordem na Ficção Seriada da América Latina, busquei analisar o processo de transmidiação em seus aspectos transnacional e intercultural por meio da identificação e classificação dos modos de endereçamento das séries televisivas criminais, policiais e de ação. O recorte foi motivado pelo surgimento, tanto no cinema quanto na televisão, de fórmulas hollywoodianas consagradas de narrativa, caso de thrillers de suspense e psicológicos, criminais e de ação – que se distanciavam do cinema de crítica social em geral associado às produções do “terceiro mundo”, mas também das telenovelas. Essas produções, além de evidenciarem o crescimento de ficções de gênero, buscam uma inserção no mercado internacional e na própria região latino-americana, e por este motivo incorporam padrões estéticos e narrativos consagrados e tradicionais. Foram identificados 313 produtos ficcionais de 11 países – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Estados Unidos, México, Peru, Venezuela e Uruguai – com distintos formatos: minisséries, docudramas, séries e telefilmes. Muitos projetos incluíam filme e série, e alguns telefilmes foram utilizados como estratégia de divulgação das séries, ou vice-versa, gerando processos de transmidiação. Séries como a brasileira Na mira do Crime (FX, 2015), telefilme e série, a argentina Signos (Telefe, 2015), a mexicana Deus Inc (HBO, 2016) e a estadunidense La Reina del Sur (Telemundo, 2011) representam distintas facetas deste momento. Para as majors, caso da HBO e do grupo Time Warner, essa regionalização da produção corresponde a novas estratégias de mercado, dentro do contexto de expansão das transmissões a cabo, para competir com os produtos locais e para poder beneficiar-se de leis de fomento direto e indireto. No caso do Brasil, o fenômeno é estimulado ainda pela cota da TV Paga, devido à aprovação da Lei 12.485/2011, que passou a permitir a exploração de serviços de televisão paga pelas concessionárias de telefonia e a exigir cotas de até 3h30 de produção nacional nos canais de televisão pagos provisionados no FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Além disso, cresceram os serviços por assinatura na web, como o Netflix, que não apenas distribui conteúdos audiovisuais, mas também investe na produção. A primeira série criminal latino-americana foi Narcos (2015-2016), sobre Pablo Escobar, estrelada por Wagner Moura, e dirigida por José Padilha, e foi anunciada a produção da primeira série brasileira, 3%. Essa produção abre espaço para o surgimento de uma narrativa de gênero policial que flerta com o noir, com os thrillers de ação e suspense de décadas anteriores, popularizados, sobretudo, pelo cinema e pelos seriados americanos, mas que se depara com a inevitabilidade do crime e da transgressão como única forma de estabelecer a ordem. A cidade das obras latino-americanas não é a do espetáculo, do desenvolvimento e das novas tecnologias, como Nova York, Barcelona, Berlim, mas as cidades “paranoicas” : Buenos Aires, Caracas, Lima, México e Rio de Janeiro, outrora destinos turísticos e de investimento, são agora descritas pela mídia como “paisagens catastróficas, arruinadas por assaltantes, narcotraficantes, catadores de papel e sem-teto” (CANCLINI, 2008, pág. 23). |
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Bibliografia | CANNITO, Newton (2010). A televisão na era digital - interatividade, convergência e novos modelos de negócio. São Paulo: Summus |