ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A voz como objeto sonoro: flutuações vocais em Família Rodante |
|
Autor | Debora Regina Taño |
|
Resumo Expandido | A presente comunicação é parte da dissertação de mestrado intitulada “Sonoridades vocais no cinema: a fala flutuante em Família Rodante (2004) de Pablo Trapero”, atualmente em fase de desenvolvimento. Neste recorte iremos abordar o início das reflexões acerca da utilização da voz de forma flutuante, ou seja, nem sempre relacionada diretamente ao desenvolvimento narrativo da ação, mas sim a outros elementos constituintes do filme Família Rodante (2004), do diretor argentino Pablo Trapero. Neste filme, as falas dos personagens parecem não estar amarradas a informações comumente interpretadas como “relevantes”, mas sim flutuando por assuntos passíveis de serem entendidos como “periféricos”. Tal característica diminuiria o papel primordialmente semântico das vozes, abrindo espaço para a sua presença enquanto “som”. Entendendo a voz como mais uma camada da construção sonora de um filme e como fator importante na configuração de personagens e de ações, observaremos quais são as possíveis potências implicadas em suas sonoridades. Observaremos, ainda, as significações que emergem da interação entre a voz e os demais componentes sonoros e em que medida tal polifonia é capaz de articular camadas narrativas específicas. Estas diversificações no uso da voz podem ser abordadas de acordo com suas demandas, levando-nos a diversas perguntas e abordagens teóricas diferentes a partir do que o filme nos apresenta como formas de uso das sonoridades vocais. Entre as questões abordadas na pesquisa está, em primeiro lugar, como a voz alcançou o status de centro da mixagem sonora. Os diálogos, e portanto as vozes, são geralmente o foco de atenção ao qual o espectador é direcionado, para que seu conteúdo semântico - e também narrativo - não seja perdido. Percorrendo a história do cinema podemos perceber este direcionamento da gravação e edição de som para a clareza da voz. Entretanto, em um filme no qual não são todos os momentos em que a presença de diálogo está no centro do entendimento, ou realmente diz algo, como mais ele pode aparecer? Dando sequência às investigações, analisaremos a relação das vozes dos personagens entre si, como e quando elas aparecem. Estão sozinhas ou em um amontado sonoro? Seu conteúdo semântico realmente dá informações sobre o desenvolvimento narrativo, ou mais auxilia na criação e aprofundamento do personagem? Essas falas são ditas para quem? Um personagem, vários, para o espectador? Como essa voz aparece em relação à imagem? O que ela fornece à narrativa? Estas questões, em conjunto com a análise de sequências específicas do filme, serão discutidas a partir de diferentes frentes teóricas. Partindo da bibliografia básica sobre som no cinema, com Michel Chion (1993; 2004), para abordagens acerca das qualidades da voz, incluindo o conceito de “grão” proposto por Barthes (1986) e respiração, com Davina Quinlivan (2012); passando pelas análises da oralidade na poesia (ZUMTHOR, 2001) e no cinema (HORTON, 2013), até o pensamento da voz enquanto linguagem, mas também fora dela, como objeto sonoro responsável pela subjetividade e pela sociabilidade do ser humano, com Ihde (2007) e Dolar (2007). É, portanto, nosso intuito, levantar questões e encontrar possíveis caminhos de interpretação para o objeto “voz”, tão pouco aprofundado nos estudos de audiovisual para além de seu significado ou direta relação com o quadro. Sendo a voz o foco de atenção sonora, como afirma Chion (1993) com o conceito de vococentrismo, pretendemos, sem deixar de lado o verbo, deter-nos aos demais elementos e possibilidades que a emissão sonora humana traz ao contexto audiovisual. |
|
Bibliografia | BARTHES, Roland. El “grano” de la voz. In: Obvio obtuso - imagenes, gestos, voces. Barcelona: Ediciones Paidós Iberica SA, 1986. p 262-271. |