ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A construção da atuação no filme “Tatuagem”, do diretor Hilton Lacerda |
|
Autor | maria alice lucena de gouveia |
|
Resumo Expandido | Neste trabalho iremos analisar a construção da atuação no filme “Tatuagem”, 2013, do diretor pernambucano Hilton Lacerda. Para isso, levaremos em consideração diferentes formas de mise-en-scène presentes no filme e sua relação com os atores. O filme é tecido a partir de três camadas; esquetes de um teatro de revista, o “Chão de Estrelas”, uma narrativa clássica, ambientada no ano de 1978, que relata o romance entre Clécio (Irandhir Santos) e o soldado Fininha (Jesuíta Barbosa) e uma refilmagem de um conjunto de curtas-metragens experimentais realizados pelo diretor Jomard Muniz de Brito nos anos 1970. O filme “Tatuagem” é livremente inspirado no grupo “Vivêncial Diversiones”, muito atuante nas cidades de Recife e Olinda nos anos 1970 e 1980. Esse grupo apresentava-se semanalmente com esquetes inspiradas no teatro de revista pautadas pelo erotismo e deboche e foi muito presente na obra de Jomard Muniz de Brito, importante referência do movimento do Super-8 pernambucano. As esquetes da trupe “Chão de Estrelas” foram produzidas pelos atores, de forma colaborativa com o departamento de arte. Existia, inicialmente, para os atores do filme, um roteiro de teatro “Chão de Estrelas” mas não o roteiro cinematográfico, “Tatuagem”. Eles escolheram quais peças iriam ser encenadas e montaram os cenários, objetos e figurinos. Os temas eram lançados e, a partir disso, os atores escolhiam o que iria ser montado. No processo de abertura dessas cenas, o diretor não estava presente, deixando os atores livres para as improvisações que permeiam o dia a dia de uma montagem teatral. A ideia era trazer os atores de um teatro colocando-os numa dimensão cinematográfica. O desafio do filme era fazer com que as pessoas acreditassem que aquele grupo estava junto há anos. Não estava escrito o que quinze pessoas faziam numa cena em que elas estavam. Tinha que existir um estado de prontidão, de intimidade para que toda vez que houvesse uma câmera rodando e para qualquer lado do cenário que ela apontasse, sempre tivesse vida. Para a construção da trupe “Chão de Estrelas” foi realizado um laboratório durante cinco semanas no qual os atores ficaram morando juntos. Essa vivência criou uma intimidade entre o grupo que está impressa no filme. Para estruturar esse trabalho, o ator principal de “Tatuagem”, Irandhir Santos, serviu como uma espécie de diretor de teatro durante o laboratório. “Tatuagem” buscou uma construção processual cujo o acaso foi tomado como método (Salles, 2006) o que permitiu com que a câmera se abrisse às descobertas e experiências que nasceram da troca com os atores. Como segundo vetor, o filme tem uma camada narrativa encenada de forma codificada, por meio de um investimento analítico na construção das personagens, ancorada nos protocolos de atuação do cinema clássico. “Tatuagem” é resultado de uma reflexão com uma questão muito contemporânea que tem como foco a leitura que se faz sobre os pudores do corpo e que começa a pautar um conjunto de práticas políticas conservadoras sobre a sexualidade. Para ancorar essa discursão, o diretor Hilton Lacerda escreveu um romance entre um jovem soldado raso, Fininha (Jesuitá Barbosa), e o diretor de uma trupe de teatro, Clécio (Irandhir Santos). Por fim, o filme também reencena curtas-metragens produzidos nos anos 1970, elaborando com isso, uma mise-en-scène experimental que busca no diálogo entre os atores e a câmera sensações vinculadas ao corpo. Para o entendimento dos processos de construção da atuação, buscarei como base teórica um diálogo estreito com as reflexões sobre o trabalho do ator no teatro sistematizadas por Grotowski (1989), Artaud (1984), Stanislavski (1979), assim como as leituras contemporâneas sobre o corpo elaboradas por Icle (2011), Quilici (2015) e Ferracini (2014). Para esse estudo também levamos em consideração as etapas da elaboração de um longa-metragem, com ênfase nas “mise-en-scènes”, clássica (Bordwell, 2008) e contemporânea (Bouquet, 2005). |
|
Bibliografia | ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo. Martins Fontes. 2006. |