ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A violência em Tarantino: uma abordagem pela Teoria dos Cineastas |
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Autor | LUIZ GUSTAVO VILELA TEIXEIRA |
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Resumo Expandido | Logo nos primeiros parágrafos da introdução de seu livro As Teorias dos Cineastas, Jacques Aumont lança a definição que norteará seu estudo: "o cineasta é um homem que não pode evitar a consciência de sua arte, a reflexão sobre seu ofício e suas finalidades, e, em suma, o pensamento" (AUMONT, 2002, p. 7). No parágrafo seguinte, o pensador sistematiza o que considera "reflexão" e "pensamento" ao justificar o foco dado pelo livro. Isso significa que ele [o livro] privilegia os cineastas que tiveram a ambição senão a mais elevada, pelo menos a mais profunda e a mais consequente: para teorizar, para simplesmente refletir, é preferível aprofundar opiniões estáveis do que mudá-las o tempo todo ou permanecer na superfície. (AUMONT, 2002, p. 7). A noção de manutenção das ideias ao longo do tempo nos coloca em direção ao cinema de Quentin Tarantino e, principalmente, ao pensamento sobre sua arte. Mais notadamente em relação a uma declaração sua em uma entrevista de divulgação para a promoção de Django Livre (2012). Depois de dizer que seu uso de violência era duplo no filme – operando no nível da representação e no da catarse –, o entrevistador, Krishnan Guru-Murthy, insistiu em questionar a relação entre violência real e violência cinematográfica. A resposta do diretor é tão exemplar de sua personalidade quanto do nosso primeiro passo em direção à Teoria dos Autores. Eu recuso sua questão. Não sou seu escravo e você não é meu mestre. Você não pode me fazer dançar para sua música. Não sou um macaco (...) A razão pela qual não respondo isso é porque eu já disse tudo o que tinha para dizer sobre isso. Se alguém se importar com o que tenho para dizer sobre isso, podem procurar no Google. E eles podem ver 20 anos sobre o que tenho a dizer. Não mudei minha opinião nem um pouco. (TARANTINO, 2013). Para a sorte deste trabalho, o The Wire, site de notícias de entretenimento, à época da entrevista, fez uma coletânea das declarações de Tarantino sobre como o cineasta usa a violência em seus filmes. Algumas são exemplares, como esta de 1994, em uma coletiva de imprensa para o lançamento de Pulp Fiction (1994): Violência é apenas uma das muitas formas de fazer cinema. As pessoas me perguntam, 'de onde vem toda esta violência em seus filmes?' e eu respondo, 'de onde vem toda a dança dos filmes de Stanley Donen?' se você me pergunta como eu me sinto em relação à violência na vida real, bem, tenho muitos sentimentos sobre isso. É um dos piores aspectos da América. Nos filmes violência é legal. Eu gosto. (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p). Ou esta para o Chicago Tribune, de 1993, sobre a violência em Cães de Aluguel (1992), quando diz que "ainda é um filme. No limite eu não sou responsável pelo que uma pessoa faz depois de ver um filme. Tenho uma responsabilidade. Minha responsabilidade é em criar personagens os mais verdadeiros que eu possa" (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p). Vinte anos depois ele, de fato, seguiu dizendo as mesmas coisas, como mostra esta declaração de 2013, depois do lançamento de DJANGO LIVRE, para o site Fresh Air: Eu assistiria um filme de Kung Fu três dias depois do massacre de Sandy Hook? Eu assistiria um filme de Kung Fu? Talvez, porque eles não tem nada a ver um com o outro (...) Sim. Fico muito incomodado [com este tipo de pergunta]. Acho que é um desrespeito com a memória deles, na verdade (...) Com a memória das pessoas que morreram ao relacionar com filmes [suas mortes]. Acho que é totalmente desrespeitoso para sua memória. Óbviamente a questão é controle na venda de armas e saúde mental. (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p). Fica claro, então, que Tarantino não é um cineasta que usa a violência como forma de encantar o público. Sua preocupação está no uso dela como recurso visual e narrativo: a catarse mencionada na entrevista à Guru-Murthy. Para ele a violência do mundo real não pode e não deve se relacionar com a da ficção, sempre contextualizada e caricatural. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As Teorias dos Cineastas. Campinas, SP. Papirus, 2004. |